Especialistas afirmam que os óbitos podem ser evitados e reforçam a importante de conhecer os sinais de alarme da dengue.
Por Júlia Carvalho, g1
Em um cenário de explosão de casos de dengue vivido pelo Brasil, os especialistas e o Ministério da Saúde são categóricos quando o assunto são os óbitos pela doença: a maioria das mortes poderia ser evitada.
Até 29 de fevereiro, o Brasil contava com mais de 1 milhão de casos prováveis de dengue. São 214 mortes confirmadas por dengue e 687 sob investigação.
Nos dois últimos anos, além da explosão de casos, o país também registrou recorde de mortes. Foram 1.053 óbitos em 2022 e 1.094 em 2023 – em toda a série histórica (2000-2023), o Brasil nunca tinha ultrapassado a marca de mil óbitos.
⚠️De acordo com os infectologistas, a taxa de letalidade da dengue não é considerada extremamente elevada. O valor se refere à quantidade de pessoas que morreram por uma doença em relação à quantidade de infectados por ela. Atualmente, a taxa de letalidade da dengue está em 0,02.
Carlos Fortaleza, médico infectologista e diretor da Faculdade de Medicina da UNESP, afirma que quase na totalidade dos casos, quando se identifica uma tendência para evolução para gravidade, há medidas que podem ser tomadas para evitar a morte.
“A maior parte dos casos têm uma boa evolução clínica, mas algumas pessoas acabam desenvolvendo casos mais graves que, se não tratados adequadamente, podem levar ao óbito”, comenta.
De acordo com o Ministério da Saúde, a não evolução da doença para o falecimento “depende, na maioria das vezes, da qualidade da assistência prestada e organização da rede de serviços de saúde”.
Mas se grande parte das mortes por dengue pode ser evitada, quando o quadro da infecção evolui para o óbito?
Grupos mais vulneráveis
Como em outras doenças, como a gripe e até a Covid-19, também há grupos mais vulneráveis a desenvolver quadros graves de dengue. Para essas pessoas, existe uma chance maior de um agravamento dos sintomas e de um possível falecimento por conta da doença.
De acordo com os infectologistas, os grupos de risco são:
- Pessoas nos extremos de idade, isto é, idosos e bebês
- Gestantes
- Pessoas com doenças crônicas pré-existentes, como diabetes e hipertensão
O médico infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, Celso Granato, explica que a dengue tem como característica ser uma doença que inflama muito o organismo. “Pessoas que têm outras doenças, especialmente do tipo inflamatórias, tendem a ter um quadro mais grave de dengue”, analisa.
Outro ponto reforçado pelos especialistas é que a reinfecção, em geral, aumenta a chance de desenvolvimento grave da doença. “Em uma situação de dengue primária, taxa geral de mortalidade é de 0,3 a cada mil pessoas. Em casos de dengue secundária, essa taxa aumenta para 3 em cada mil”, compara o infectologista.
🦟A dengue tem quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 — todos podem causar as diferentes formas da doença. Assim, uma pessoa pode ter doença até quatro vezes ao longo de sua vida, já que se torna imune somente ao sorotipo que já foi infectada.
“Quando você dengue pela segunda vez, você ainda possui anticorpos da primeira infecção, mas eles não são suficientes para matar o vírus. Esses anticorpos grudam no vírus e o sistema imunológico acaba trazendo essa combinação com o vírus ainda vivo para dentro das células, potencializando a infecção”, explica Granato.
Importância dos sinais de alarme
Os chamados sinais de alarme são fundamentais para identificar os casos graves da doença e, assim, evitar mortes por dengue.
⚠️ Os sinais de alarme aprecerem depois do período febril e são principalmente:
- Dor abdominal intensa
- Vômitos persistentes
- Acúmulo de líquidos em cavidades corporais
- Sangramento de mucosa
- Hemorragias
O Ministério da Saúde recomenda que os pacientes que apresentam sinais de alarme ou quadros graves da doença devem procurar um serviço de saúde, para acompanhamento clínico.
Os especialistas alertam que é importante não só a identificação dos sintomas pelas pessoas, como também o preparo dos profissionais de saúde para o tratamento adequado.
“O não reconhecimento desses casos é o que faz