Na Líder Aviação, empresa que atua com compra, venda e fretamento de aeronaves, a expectativa é fechar o ano com 20 aviões usados (jatos e turboélices) entregues -patamar 66% maior do que o observado em 2023. Nos primeiros seis meses deste ano, foram dez aviões usados entregues -três a mais do que o mesmo período do ano passado.
FOLHAPRESS – Empresas do segmento de jatos executivos afirmam notar aumento na procura por aeronaves seminovas. Enquanto espera para receber um jatinho novo chega a durar anos, os usados continuam a ganhar força e, por vezes, custam mais caro do que um avião recém-fabricado.
Na Líder Aviação, empresa que atua com compra, venda e fretamento de aeronaves, a expectativa é fechar o ano com 20 aviões usados (jatos e turboélices) entregues -patamar 66% maior do que o observado em 2023. Nos primeiros seis meses deste ano, foram dez aviões usados entregues -três a mais do que o mesmo período do ano passado.
Segundo Anderson Markiewicz, diretor de vendas da Líder Aviação, a fila para uma aeronave nova está variando de um ano e meio a três anos, ainda sob efeitos da pandemia.
Com as restrições sanitárias e o fluxo interrompido na aviação comercial na época, executivos passaram a procurar mais por jatos, segundo o setor. Fabricantes, por sua vez, enfrentam problemas com disponibilidade de peças e mão de obra, o que pressiona a oferta de novos aviões.
De acordo com a Líder Aviação, o tempo de entrega varia de um a dois meses para jatos usados que estão no Brasil. Para aeronaves que estão fora do país, o tempo vai de dois a seis meses. O período mais curto para receber a aeronave torna o segmento de usados mais atrativo, segundo Markiewicz.
“É um fenômeno muito similar ao que aconteceu com o mercado automotivo. Na pandemia, a gente observou muito claramente: os carros seminovos nunca foram tão caros, tão valorizados”, afirma.
A Synerjet, distribuidora de aeronaves da fabricante suíça Pilatus no Brasil, decidiu entrar no segmento de seminovos durante a pandemia. Um cliente que hoje busca uma aeronave nova por meio da empresa tem de esperar cerca de dois anos, segundo Fabio Rebello, diretor-executivo da empresa. “Naturalmente as pessoas têm que seguir voando, e elas precisam de meios do mercado, que passaram a ser as seminovas.”
Ele afirma que, com a baixa oferta, alguns modelos usados estão custando mais caro do que aeronaves novas. É o caso do jato Pilatus PC-24, cujo preço do seminovo com cerca de cinco anos de uso varia de US$ 13 milhões a US$ 15 milhões (R$ 73 milhões a R$ 84 milhões), a depender de fatores como o tempo de voo, segundo Rebello.
Isso significa que esse modelo usado pode custar mais caro do que um PC-24 novo, avaliado em US$ 14 milhões (R$ 78 milhões), diz o executivo. O avião possui um alcance acima de 3.700 km, e sua velocidade máxima chega a 815 km/h.
Ele explica que, atualmente, clientes estão comprando jatos seminovos e, posteriormente, quando há disponibilidade de aeronaves novas, dão os modelos usados como parte do pagamento. Segundo Rebello, a tendência é que os preços dos seminovos se estabilizem daqui para frente.
Luiz Sandler, fundador da Jet Match, afirma que também observou aumento do preço de seminovos por causa da fila de espera para adquirir aeronaves novas.
No ano passado, eu cheguei a vender um Phenom 300, da Embraer, um best-seller mundial, com quase 10 anos [de uso] por quase 80% do valor de um novo. Em tempos normais, depreciando a uma média de 7%, deveria custar 50% do valor de um novo.
fundador da Jet Match
Porém, essas são situações específicas que não duram muito, segundo Sandler.
“Isso tem mais a ver com os modelos do que com as empresas que os vendem. Já houve momentos, inclusive recentes, que os usados valorizaram, e aqueles com pouquíssimo uso superaram o valor dos novos. Mas esses momentos duram relativamente pouco e, no meu entender, já passamos dessa fase”, completa.
Dono de um jato Gulfstream G450 usado, Flávio Augusto da Silva, fundador do curso de inglês Wise Up, diz que, por questões tributárias, aeronaves totalmente novas são menos vantajosas no Brasil na comparação com países como os Estados Unidos.
“O mercado latino-americano é predominantemente secundário. Nos Estados Unidos, você aplica depreciação acelerada e deduz isso nos impostos sobre o lucro da sua empresa. Então, grande parte daquilo que você está comprando é custeado pelo incentivo fiscal existente nos Estados Unidos”, afirma.
Silva comprou o jato seminovo há cerca de dois meses e está fazendo a revisão da aeronave. Ele conta que fretava aviões anteriormente, mas decidiu adquirir um próprio por conforto.
O empresário afirma ter comprado o avião, que tem aproximadamente 200 horas de voo, por cerca de US$ 15 milhões -US$ 20 milhões a menos do que o modelo novo, diz.
Na opinião de Pedro Ferreira, chefe de aviação da Timbro, outra empresa do setor, o segmento de usados deve continuar aquecido por pelo menos mais dois anos. É o tempo estimado pelo executivo para que fabricantes tentem resolver o problema da cadeia logística.
Ele afirma que a aquisição de uma aeronave seminova hoje está em torno de 45 dias. Para um jato novo, chega a dois anos, diz -segundo a Abag (associação que representa o setor), esse patamar era de nove meses antes da pandemia.