Os brasileiros nunca foram tão felizes, mas apenas quatro em cada dez estão satisfeitos com a economia, segundo uma pesquisa do instituto Ipsos que avaliou a felicidade da população em 32 países.
No Brasil, 83% dos entrevistados consideram-se muito felizes ou felizes — uma alta de 20 pontos percentuais em relação ao último levantamento, feito em dezembro de 2021, quando o índice foi de 63%. No mundo, a percepção de felicidade também subiu, de 67% para 73%.
No caso brasileiro, foi o melhor resultado desde que a pesquisa começou a ser feita, em dezembro de 2011 — até então, o pico de felicidade ocorrera em maio de 2013, quando 81% dos entrevistados se consideravam muito felizes ou felizes.
O Brasil foi o quinto colocado do ranking global de felicidade, atrás apenas da China (91%), Arábia Saudita (86%), Holanda (85%) e Índia (84%).
Em compensação, os cidadãos menos felizes são os húngaros (50%), sul-coreanos (57%) e poloneses (58%).
“As pessoas estão vendo este ano como o encerramento de um capítulo extremamente desafiador em nossa história: a covid-19, ainda que a pandemia não tenha sido totalmente erradicada, seu impacto é infinitamente menor do que nos últimos anos. Esse sentimento reforça a percepção de felicidade”, diz Marcos Calliari, CEO da Ipsos no Brasil.
A pesquisa, intitulada Global Happiness Study ou Estudo Global da Felicidade, foi feita online com 22.508 mil entrevistados com idades entre 16 e 74 anos em 32 países, entre 22 de dezembro de 2022 e 6 de janeiro de 2023.
Foram 1.000 entrevistados no Brasil e a margem de erro é de 3,5 pontos para mais ou para menos.
Mais felizes
O Brasil também foi o quarto país com o maior crescimento na percepção de felicidade (20 pontos percentuais), atrás apenas de Colômbia, Chile e Argentina, que apresentaram crescimento de 26 pontos percentuais no mesmo período.
E a América Latina, a região onde a percepção de felicidade mais subiu em todo o mundo.
Já os britânicos, franceses e poloneses foram os que ficaram menos felizes nessa mesma base de comparação.
A queda foi de 13 pontos percentuais para o Reino Unido e sete pontos percentuais para França e Polônia ante dezembro de 2021.
Contudo, em relação aos últimos dez anos (maio de 2013), o índice de felicidade dos brasileiros cresceu apenas dois pontos percentuais.
O ponto mais baixo da série foi em 2017, quando apenas 56% dos entrevistados afirmaram estar felizes ou muito felizes.
Já entre os anos de 2019 e 2021, o índice ficou na casa dos 60%.
Dinheiro x felicidade
Segundo a pesquisa, países de renda média, como o Brasil, apresentaram um aumento na percepção da felicidade em comparação aos de renda alta, como França ou Reino Unido.
Casados, com mais dinheiro e com maior nível educacional são, em média, mais felizes. Não houve diferença significativa na percepção de felicidade entre homens e mulheres.
Mas a sondagem também mostrou que a satisfação com aspectos da vida varia conforme o desenvolvimento econômico de um país.
Segundo o levantamento, cidadãos de países de renda mais alta tendem a ser mais satisfeitos com segurança, posses materiais, qualidade de vida e emprego.
Por outro lado, aqueles que vivem em nações de renda média demonstram maior satisfação com fé/vida espiritual, bem-estar físico, aparência, senso de controle e propósito, e sentir-se valorizado.
No mundo, os níveis de satisfação são mais altos com relacionamentos, filhos, cônjuge, parentes, amigos, colegas de trabalho e natureza e com educação e informação.
E mais baixos com a situação do país, finanças pessoais, vida romântica/sexual e atividade física.
No caso do Brasil, especificamente, de todos os aspectos analisados para medir o grau de satisfação com a vida, o maior índice foi registrado na relação com o cônjuge — 78% dos brasileiros disseram estar satisfeitos ou muito satisfeitos.
Já o pior foi com a situação econômica do país — apenas 37% dos entrevistados afirmaram estar satisfeitos ou muito satisfeitos.
Um índice semelhante — 43% — foi registrado diante da situação social e política do Brasil.
Além disso, somente 58% dos brasileiros afirmaram que possuem amigos próximos ou parentes com quem poderiam contar em caso de necessidade.
O país é o penúltimo colocado do ranking neste quesito, ficando atrás apenas do Japão (54%).
Holanda (82%), Indonésia e Portugal (ambos com 79%) estão no topo da lista. A média global é de 72%.
Pessimismo com o futuro
A pesquisa indicou ainda que, globalmente, as pessoas estão mais pessimistas quanto ao futuro dos relacionamentos.
Aumentou em duas vezes o número de entrevistados que considera que, nos próximos dez anos, vai ficar mais difícil para solteiros encontrar um par romântico, para casais manter um relacionamento feliz e para as pessoas ter amizades com quem possam contar.
O Brasil, no entanto, é um ponto fora da curva. Em todos esses três aspectos, os brasileiros demonstraram maior otimismo quanto ao futuro dos relacionamentos.
Segundo a sondagem, o pessimismo é maior entre as gerações dos “baby boomers” (nascidos após a 2ª Guerra Mundial até a metade dos anos 60) e X (nascidos entre 1965 e 1980), os de menor nível educacional e mais ricos, e aqueles que não são casados. E mais pronunciado em países de renda mais alta.
– Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cye4ll78l3wo