Estudo da universidade em parceria com o Cefet é financiado por ONG que busca proteínas alternativas.
Por Thaís Leocádio, TV Globo
Em Belo Horizonte, pesquisadores estão cultivando carne de frango em laboratório. A parceria entre o Instituto de Ciências Biológicas (IBC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) usa células-tronco do tecido muscular da ave como base e, a partir delas, um pedaço de carne de 1,5 cm cresce em duas semanas.
“Testamos vários tipos celulares. E, quando testamos com a célula muscular, vimos que o músculo ‘gosta’ e consegue crescer e produzir as características iguais às que existem na carne. Aqui na UFMG, conseguimos construir o tecido usando o biomaterial produzido pelo Cefet”, explica a professora Erika Cristina Jorge, pesquisadora do ICB.
- 🐔 Esse biomaterial é derivado de celulose. Ele serve como base para que as células cresçam seguindo uma estrutura.
- 🐔 O estudo é financiado pela ONG internacional The Good Food Institute, que incentiva a inovação do setor de proteínas alternativas.
- 🐔 O valor investido ultrapassa R$ 1 milhão.
- 🐔 A ideia é que, no futuro, seja possível produzir carne sem sofrimento animal, pois não é necessário matar a ave para a retirada das células que servem de base para a produção.
“A gente ganhou o incentivo para desenvolver carne sem abate, sem desmatamento. Com uma biópsia de músculo conseguimos fazer as células crescerem em laboratório, não precisamos matar o animal”, completa.
Outro impacto da pesquisa é um possível uso desse modelo, com células humanas, para enxertos e testes fármacos.
Franguinho na panela
Pedaço de 1,5 cm demora duas semanas para “crescer” em biorreator — Foto: ICB/UFMG/Divulgação
🍗Por enquanto, tudo é feito em escala laboratorial. Para produção em larga escala, seriam necessários biorreatores industriais. E ainda não existe, no Brasil, uma regulamentação para que esse tipo de produto seja vendido no mercado.
🍗Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), “além de ser uma nova frente tecnológica, as carnes cultivadas também representam um mercado com alta expectativa e interesse, inclusive pelo potencial de redução de impactos ambientais associados ao modo tradicional de produção de carne”.
🍗Ainda de acordo com Anvisa, um levantamento feito no ano passado mostrou que Singapura era o único país do mundo com regulamentação sobre o assunto. Estados Unidos e Comissão Eropeia estudam essa fronteira regulatória.
🍗A ONG The Good Food Institute financia, atualmente, três pesquisas de carne cultivada no país: uma na USP, outra na Embrapa Suínos e Aves e a de Minas Gerais. Além disso, possui uma pesquisa interna sobre a segurança desse tipo de produto.
🍗Empresas privadas também têm se dedicado a pesquisas nessa área.
🍗A percepção da Anvisa, no momento, é a de que “as carnes cultivadas estão enquadradas no conceito de novos alimentos ou novos ingredientes, e devem passar por avaliação de segurança realizada pela Anvisa, mediante protocolo de petição específica”.
🍗Embora entidades do setor produtivo venham manifestando interesse pelo tema, até o momento ninguém pediu à agência federal qualquer avaliação de alimentos produzidos por esse tipo de tecnologia.
Pesquisadores estão cultivando carne de frango em laboratório — Foto: ICB/UFMG/Divulgação