Pandemia realça diferença de custos para as indústrias entre capital e interior de SP

A diferença entre empresas em situação financeira ótima ou boa na região metropolitana de São Paulo e no interior começou a se distanciar durante a pandemia.


Para Joseph Couri, presidente da entidade, o menor custo operacional no interior explica o impacto atenuado da pandemia sobre os negócios da região.


“No interior, há redução de locação industrial, menor custo de mobilidade e alimentação de funcionários, os serviços são mais baratos”, afirma.


A diferença entre empresas em situação financeira ótima ou boa na região metropolitana de São Paulo e no interior começou a se distanciar durante a pandemia.


Em junho, 23% das do interior estavam nessa situa- ção, ante 15% na capital –uma diferença de 12 pontos percentuais.


Em novembro essa distância mais que dobrou, para 26 pontos: 50% no interior, ante 24% na região metropolitana.


O presidente do Simpi afirma que a pandemia intensificou as diferenças de custos historicamente observadas entre as duas regiões.


De acordo com Couri, como em um momento de crise a competitividade se acentua, pode ser mais vantajoso para as empresas migrarem para o interior e investirem em logística.


“A pandemia trouxe a paralisação de várias operações fabris. O próprio mercado de consumo, dependendo da atividade e da diferença de custo somado ao frete, fez o interior ser mais barato para a produção local do que comprar na região central”, afirma.


A microempresária Elena Mendonça, que atua no segmento de brindes corporativos, migrou do Jabaquara, bairro da zona sul de São Paulo, para Sorocaba, no interior do estado, durante a crise do coronavírus. Com a mudança, a economia com locação foi de 25%, afirma.


“Houve uma parada muito brusca na produção. Migramos para o interior, que tem custo menor, em agosto. Nosso mercado começou a voltar, as empresas começaram a se movimentar querendo dar brindes aos funcionários. Agora, em janeiro, com essa melhora, estamos abrindo uma base de atendimento em Guarulhos”, afirma.


Na região metropolitana, Nascimento tinha seis funcionários. No interior, contratou mais dois. A microempresária afirma que a empresa produzia, em média, 20 mil brindes corporativos por mês –produção que chegava a 80 mil itens em alguns períodos dependendo da demanda. Com a crise, de abril a junho, a queda no faturamento foi de 95%.


Apesar de 80% de seus clientes ainda estarem concentrados na capital, a empresa tem demanda para Sorocaba e Minas Gerais.


“Antes da pandemia, a gente entregava para a empresa contratante e ela distribuía aos funcionários. Hoje a gente entrega os kits de boas-vindas para a residência de cada um deles, por causa do home office”, afirma.


Embora não tenha tido necessidade de acesso a li- nha de crédito emergencial, a empresária afirma que o negócio tem sofrido com a falta de insumos.


“Temos dificuldades com fornecedores, importadores. Novembro foi o mês mais crítico. Infelizmente, tivemos que recusar muitos pedidos por causa da escassez de vidro.”


O desabastecimento, agravado na pandemia, impactou as pequenas indústrias paulistas, que empregam de 11 a 50 funcionários, e, principalmente, as microempresas (até 10 trabalhadores).


De acordo com a pesquisa, além de estarem em pior situação financeira, as micro e pequenas indústrias da capital e entorno também foram as que mais sofreram com fornecedores, seja por pedido de falência ou entrada em processo de recuperação judicial.


Somente na região metropolitana, 39% das micro e pequenas indústrias afirmaram ter enfrentado essa dificuldade, ante 23% das localizadas no interior.


A dificuldade de acesso ao crédito foi apontada como um dos gargalos para a sobrevivência da micro e pequena indústria durante a crise econômica. A maioria que pediu empréstimo de emergência com garantia do governo, nos moldes do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), encerrado em dezembro, não teve a solicitação aprovada.


Sem acesso ao crédito subsidiado, Couri afirma que as empresas estão recorrendo ao cheque especial, que tem juros mais altos.


“Não tem cabimento 23% das empresas usarem cheque especial, com uma taxa de juros muito alta, para fazerem o negócio girar.

Queremos seriedade do governo na discussão sobre as reformas tributária, administrativa e no acesso ao crédito”, diz o presidente do Simpi.


Couri afirma que, com exceção de micro e pequenas indústrias que trabalham com produtos hospitalares, construção civil, agronegócio e alimentos –setores impulsionados durante a pandemia–, as demais áreas tiveram quedas substanciais.


Para Couri, a recuperação do setor depende do comportamento da pandemia.


“Não temos nenhum horizonte a não ser a vacinação. Há uma desestruturação do mercado interno, temos empresas com apenas metade da capacidade funcionando. Estamos sentindo o reflexo da alta de preços”, diz.


O estado concentra 42% das micro e pequenas indústrias do país, cerca de 300 mil empresas. Segundo Couri, a expectativa do setor para o primeiro trimestre deste ano é ruim, pois o cenário de incerteza sobre a vacinação afeta diretamente a micro e a pequena indústria.


“O primeiro trimestre deste ano será muito ruim para o setor. A melhoria está diretamente ligada ao êxito da vacinação. Quanto mais rápida for a vacinação, mais rápida será a possibilidade de retomada de atividades econômicas”, afirma.


“Estamos sofrendo com a falta de acesso a crédito e sentindo o reflexo do fim do auxílio emergencial, que impacta o poder de compra. Há queda no consumo de alimentos em janeiro. Isso é trágico.”