Segundo o secretário da Agricultura, o tempo seco provocou perdas de 73% nas lavouras de soja localizadas no sudoeste do estado
A estiagem prolongada tem piorado as condições das lavouras de soja, milho e feijão do Paraná na safra 2021/22. Nesta terça (4), o secretário da Agricultura do estado, Norberto Ortigara, disse que a quebra até agora é de 9 milhões de toneladas de soja, milho e feijão, com prejuízo de cerca de R$ 30 bilhões.
Ele estimou as perdas de soja em 65% no oeste e 73% no sudoeste paranaense, além de quebra de 55% do milho no oeste e 64% no sudoeste, onde o grão “não vai servir nem para silagem”. Produtores da região oeste dizem que a situação é “deprimente” e que a colheita dos arrendatários de terras não paga os custos do arrendamento.
O Paraná é o maior produtor nacional de feijão e o segundo de soja e milho. Em duas semanas, devido à estiagem, a condição ruim das lavouras de soja no estado passou de 13% para 31%; no milho, de 13% para 25%; e de feijão, de 6% para 20% segundo informações do primeiro boletim de 2022 do Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná, divulgado nesta terça (4). O relatório anterior foi divulgado em 22 de dezembro. A quebra acentuada nessas regiões foi antecipada pelo Canal Rural na semana passada.
Um produtor de soja e milho de Cascavel, que pediu para não ser identificado, conversou com a reportagem do Canal Rural e enviou fotos de sua lavoura, que mostram a terra seca, com rachaduras, em meio às plantações que estão secando. Ele tem uma área de 800 hectares e plantou 240 hectares de milho e o restante, soja. A quebra na lavoura de soja é de 70% e de milho em 60%.
“O problema é muito sério. Muito pior do que muita gente imagina. Ninguém está lembrando que na região o complexo soja é produzido 50% por arrendatários. Então, os arrendatários pagam, em média, 60 sacas de soja por hectare e não vão colher para pagar o arrendamento. A situação é muito mais complexa do que muita gente imagina”, relata o produtor.
Fotos de lavouras de soja e milho atingidas pela estiagem em Cascavel, oeste do Paraná, registradas na segunda-feira (3)
O produtor de soja Cévio Mengarda, de Marechal Candido Rondon, que também é membro da comissão de cereais do Paraná, diz que a situação por conta da estiagem é deprimente e já passou de crítica e emergencial. “Iniciamos as colheitas e estamos tendo resultados de apenas duas sacas por hectare. A área que mais colheu aqui é de 25 sacas/ha. Tivemos algumas áreas que choveu, outras não. Estamos hoje dessecando as áreas de São José das Palmeiras até Francisco Alves, num raio de 150 km, mas pouco a chuva colaborou em algumas áreas de plantio mais tardio ou com a soja num ciclo um pouco mais precoce. Esse ainda salva um pouquinho. Mas a grande maioria das áreas tem perdas de 70% a 90%”, diz Mengarda.
“Em algumas áreas colhemos 4 a 5 sacas/ha, mas quando chega na classificação, ou as cooperativas nem recebem, ou recebem com 60 a 70% de desconto e não paga a colheita. As pessoas que não tem colheitadeira precisam fazer uma análise bastante minuciosa porque o que eles colherem pode não pagar o custo da colheita. Meu pai que tem um pouco mais idade diz que só compara essa seca com a safra de 1985/1986”, relata Cévio Mengarda.
E diante das perdas por conta da estiagem, o produtor de soja que nem mesmo a proteção com o seguro rural tem ajudado. “Estamos na expectativa, porque quem tem seguro também está tendo bastante problema com as perícias. A seguradora também tem que avaliar bem os prejuízos, porque se deixar passar uma ou duas sacas por hectare, no final são milhões de prejuízo”, afirma o sojicultor.
Medidas contra a estiagem
De acordo com o secretário Norberto Ortigara, a maioria dos médios e grandes produtores não tem seguro. O governo do estado está conversando com 15 seguradoras para tentar acelerar as aferições e indenizações e falando com equipes técnicas. “Nós conversamos com órgãos de Brasília para acelerar o processo de avaliação de Proagro, de seguro, para quem tem direito e liberar semeadura de milho aonde houver condição. Também vamos ajudar a acelerar a renegociação de dívidas, especialmente no que diz respeito a investimento, já que o produtor não vai ter dinheiro para pagar algumas parcelas. E também vamos dar o socorro emergencial para que as prefeituras tenham condições objetivas de produzir, armazenar e fornecer água”, diz o secretário. CANAL RURAL