O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira aumentou 1,26% em julho na “Média Brasil’ (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP), influenciado pelas altas nos preços dos adubos e dos suplementos minerais, de 7,93% e 3,78% respectivamente, entre junho e julho. De janeiro a julho de 2021, o COE acumula elevação de 12,90%. O cenário continua desafiador para produtores, especialmente em regiões onde os danos causados pelas geadas nas forragens foram severos.
Quanto aos fertilizantes, a firme demanda para a próxima safra 2021/22, a valorização de 4,76% do dólar de junho para julho e o encarecimento dos fretes elevaram por mais um mês as cotações. De janeiro a julho, o grupo de adubos e corretivos se valorizou 37,73%. A alta nos preços dos adubos eleva as despesas com a fertilidade do solo para a safra 2021/22, e, assim, produtores já encaram um cenário de aumento nos custos com a produção dos volumosos para 2022.PODEM TE INTERESSAR
Os preços dos suplementos minerais também subiram em relação a junho. Nesse caso, além da alta dos fretes, a demanda aumentou devido à perda na qualidade das forragens, em razão das geadas no Centro-Sul do País. Esse cenário de piora das pastagens acabou levando produtores a adotarem novas estratégias de suplementação para evitar uma perda maior no desempenho dos animais.
Na parcial deste ano, os suplementos minerais se valorizaram 20,03% na “média Brasil’. Os estados que apresentam avanços mais expressivos nos custos com suplementos até o momento são Bahia (33,04%), Minas Gerais (30,89%) e Paraná (23,58%).
O grupo das rações e dos concentrados registrou valorizações de 0,32% e de 11,7% nas comparações mensal e anual na “média Brasil’. Os avanços mais significativos entre junho e julho foram verificados em Santa Catarina (2,38%), São Paulo (1,87%) e Minas Gerais (0,32%).
A relação de troca ficou desfavorável ao produtor por mais um mês. Em julho, para a aquisição de uma saca de 60 kg de milho, foram necessários 42,18 litros de leite – contra 41,84 litros no mês anterior. A forte valorização do milho influenciou esse quadro, mesmo com o aumento de 4,99% no preço do litro do leite.
Sazonalmente, o período de julho a setembro é marcado pela transição da produção leiteira. São os meses finais que marcam a entressafra, e, a partir de então, com o avanço das culturas de inverno e retorno da primavera, a produção tende a se recuperar – o que, por sua vez, acaba limitando o movimento de valorização do leite ao produtor.
Assim, o terceiro trimestre é um período delicado para os agentes do setor lácteo, que precisam alinhar suas expectativas, pois os fatores de oferta, em transição, alteram o equilíbrio com a demanda. E, dependendo dos contextos econômico e climático, esse cenário pode ficar ainda mais instável. E foi o que aconteceu neste ano.
Em julho, agentes consultados pelo Cepea sinalizaram que, mesmo com oferta limitada no campo, o preço do leite captado naquele mês e pago ao produtor em agosto poderia se estabilizar, fundamentados na frágil demanda. Vale lembrar que o preço do leite captado em junho e pago ao produtor em julho atingiu R$ 2,3108/litro na “Média Brasil’ líquida, recorde real (dados deflacionados pelo IPCA de jun/21) da série histórica do Cepea, iniciada em 2005.
Essa expectativa de estabilidade para agosto fugia do movimento sazonal tipicamente observado nas cotações, mas que fazia sentido quando analisado o complexo processo de formação de preços no campo. Pesquisas realizadas pelo Cepea com o apoio da OCB mostraram recuo dos preços dos derivados lácteos em julho (ver seção Derivados, na página 5). Com cotações elevadas e com o menor poder de compra do consumidor, a demanda por lácteos se desaqueceu.
Somado a isso, os maiores volumes de lácteos importados nos últimos meses (ver seção Mercado Internacional, na página 6) diminuíram a forte competição entre indústrias pela compra de leite no mercado spot nacional (leite negociado entre indústrias) em julho. A pesquisa do Cepea mostrou que, em Minas Geais, o leite spot registrou média de R$ 2,52/litro em julho, queda de 9,4% frente a junho.
Naquele momento, a demanda fragilizada se tornava o fator mais relevante a influenciar os preços: freava o repasse da valorização da matéria-prima ao consumidor e forçaria, em última instância, uma redução das margens da indústria e dos pecuaristas. No entanto, mesmo com os resultados negativos do mercado de lácteos em julho, a indústria não deve conseguir impor queda de preços no campo. Pesquisas ainda em andamento do Cepea apontam que, na média, a valorização do leite captado em julho e pago ao produtor em agosto pode chegar a 3%.
O clima adverso e as recentes geadas intensificaram a restrição de oferta entre julho e agosto aumentando a insegurança dos agentes em relação aos volumes de captação. As indústrias, focadas em manter seus market- -shares, acirraram a competição pela compra de matéria- -prima, estimulando, via preço, o ajustamento da oferta.
A elevação dos preços no campo, no entanto, não tem sido suficiente para garantir aumento de rentabilidade, tendo em vista a forte pressão dos custos, especialmente neste momento em que o clima desfavorece a atividade leiteira. De modo geral, as geadas prejudicaram a alimentação do rebanho, visto que causaram o crestamento (queima da parte vegetativa) das pastagens e diminuíram consideravelmente a qualidade da alimentação volumosa, que já vinha limitada devido ao tempo seco.
Vale mencionar que as geadas também provocam danos à aveia, forragem de inverno bastante utilizada no Sul do Brasil nesta época. Com a alimentação volumosa prejudicada, a atividade fica mais dependente do concentrado, que também vem registrando custos altos por conta da valorização dos grãos.
O encarecimento dos grãos também está atrelado ao clima adverso no Brasil e nos Estados Unidos e também à demanda aquecida (ver seção Milho e Soja, na página 9). Ademais, a produção de volumoso ficou mais cara, já que o dólar elevado também impactou os preços de adubos e corretivos. MIDIAMAX