A taxa é a maior para o mês desde 2002, informou nesta quarta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Analistas de mercado consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 1,06%. Em setembro, a alta do IPCA havia sido de 1,16%.PUBLICIDADE
Com o resultado de outubro, a inflação acumulada em 12 meses permanece acima de dois dígitos, alcançando 10,67%. Trata-se do maior acumulado desde janeiro de 2016 (10,71%).
O IPCA está distante do teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) em 12 meses. O teto é de 5,25% em 2021. O centro é de 3,75%.
Em outubro, todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram, com destaque para transportes. Esse segmento teve a maior variação (2,62%) e o principal impacto no índice do mês (0,55 ponto percentual).
O resultado de transportes foi influenciado pelos combustíveis (3,21%). A política de preços da Petrobras leva em consideração as cotações do petróleo no mercado internacional, que subiram com a reabertura da economia global, e o comportamento do dólar, acima de R$ 5.
Segundo o IBGE, a gasolina avançou 3,10% em outubro. Assim, teve o principal impacto individual (0,19 ponto percentual) no IPCA do mês.
Foi a sexta alta consecutiva dos preços desse combustível. A gasolina acumula disparada de 42,72% nos últimos 12 meses.
Os preços do óleo diesel (5,77%), do etanol (3,54%) e do gás veicular (0,84%) também subiram em outubro.
Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IBGE, lembrou que o aumento dos combustíveis acaba pressionando itens diversos ao longo da cadeia produtiva. Valores de fretes de mercadorias ficam mais caros, por exemplo.
“Isso acaba afetando outros componentes”, disse.
Um dos reflexos da alta dos combustíveis aparece nas passagens aéreas. Em outubro, o item subiu 33,86%, respondendo pelo segundo maior impacto individual no IPCA (0,15 ponto percentual).
Segundo Kislanov, a alta das passagens é comum em outubro. Mas a elevação foi turbinada por impactos adicionais do combustível (querosene de aviação) mais alto. Também pesou a demanda maior por viagens, estimulada pela vacinação contra a Covid-19.
“É comum a alta [das passagens] em outubro. Mas também há a depreciação cambial e o aumento do combustível. Isso pode ter contribuído. Houve ainda o aumento da demanda”, indicou.
Entre os grupos de produtos e serviços, a maior contribuição (0,24 p.p.) em outubro veio de alimentação e bebidas. O segmento teve alta de 1,17%.
A pesquisa do IBGE contempla 16 capitais e regiões metropolitanas. No acumulado de 12 meses, 12 metrópoles têm IPCA acima de 10%.
Curitiba (PR) é aquela com maior inflação: 13,48%. Belém (PA) tem o menor índice (9,27%).
A escalada inflacionária no país ganhou corpo ao longo da pandemia. Em um primeiro momento, houve disparada de preços de alimentos e, em seguida, de combustíveis.
Alta do dólar, estoques menores e avanço das commodities ajudam a explicar o comportamento dos preços.
Ao longo de 2021, a crise hídrica também passou a ameaçar o controle da inflação. A escassez de chuva forçou o acionamento de usinas térmicas, elevando os custos da geração de energia elétrica. O reflexo é a luz mais cara nos lares brasileiros.
Há, ainda, o efeito da crise política protagonizada pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido), já que a turbulência joga o dólar para cima.
A tensão no mercado financeiro teve novo capítulo no final de outubro, quando o governo resolveu driblar o teto de gastos para pagar o Auxílio Brasil.
Em uma tentativa de frear a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) vem subindo a taxa básica de juros, a Selic.
Os preços em patamar alto, em um ambiente de juros maiores, desemprego acentuado e renda fragilizada, dificultam o consumo das famílias e os investimentos das empresas.
O mercado financeiro vem elevando suas projeções para o IPCA. A mediana para o acumulado em 2021 é de 9,33%, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda-feira (8) pelo BC.
Foi a 31ª semana de alta nas previsões. Economistas não descartam novas revisões para cima.