Inflação dos alimentos é de 57% no governo Bolsonaro

Os alimentos subiram, em média, 57%, um percentual bem acima dos 30% da inflação geral do período

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um período a ser esquecido. Os consumidores brasileiros há quase três décadas não eram tão castigados por uma inflação dos alimentos como nos anos recentes.

No período do governo de Jair Bolsonaro, os alimentos subiram, em média, 57%, um percentual bem acima dos 30% da inflação geral do período. Em alguns casos, os reajustes acumulados dos alimentos do início de 2019 ao final de 2020 beiraram os 200%.

Os dados acumulados no período são da Folha de S.Paulo, com base nas informações de 2022 divulgadas pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) nesta quinta-feira (5).

Pior, foi um período de aumento na taxa de desemprego, perda na renda dos consumidores e ausência de reajustes no salário mínimo.

Os alimentos, inclusive os básicos, ficaram distantes do poder aquisitivo de boa parte da população. Isso elevou para 33 milhões o número de pessoas que tiveram dificuldades para se alimentar.

As principais altas de preços atingiram principalmente os produtos alimentícios que deveriam ser mais acessíveis no dia a dia da população. Cebola, batata, feijão, fubá e óleo de soja estiveram entre as principias altas do período.

Do café da manhã às demais refeições diárias, o custo dos alimentos sempre esteve ascendente, inibindo a quantidade de produtos na mesa.

Os consumidores de baixa renda, além de sofrerem a queda no poder aquisitivo, tiveram os maiores reajustes.

Quem foi ao açougue comprar um quilo de acém pagou 94% a mais pela proteína nos últimos quatro anos. Quem teve renda e optou por um quilo de picanha teve reajuste de 52% no período. O fubá subiu 112%, e o ovo, 78%.

O campo foi afetado por uma tempestade perfeita nos últimos anos. As safras foram crescentes, mas a demanda externa foi tão acentuada que influenciou fortemente os preços e o abastecimento internos.

Um fenômeno já conhecido dos produtores, e que os visitava de tempos em tempos, as adversidades climáticas, resolveu comparecer com maior frequência. O resultado foram quebras históricas nas safras de soja, milho, café, arroz, feijão e hortifrútis.

Conflitos geopolíticos, como o da Rússia e da Ucrânia, dois importantes fornecedores de alimentos ao mundo, aumentaram as tensões e os problemas de abastecimento.

Faltou ao governo que sai uma atenção especial aos produtos voltados principalmente para o mercado interno. Recai sobre o governo que entra uma política de reversão dessas pressões externas que, ao priorizar alguns produtos –como soja e milho–, interfere na produção de outros itens essenciais internamente.

A disparada de preços internos começou com o apetite chinês. Com a propagação da peste suína africana naquele país, em 2018, os chineses, até então importadores de soja do Brasil, passaram a liderar também as compras de proteínas brasileiras.

A produção chinesa de carne suína, normalmente em 55 milhões de toneladas por ano, recuou para menos de 40 milhões. Com isso, a China desestabilizou o mercado mundial de proteínas. Escolheram o Brasil como principal fornecedor, devido ao potencial dos brasileiros. Os preços internos dispararam.

A pandemia trouxe novos desafios para o campo. Não houve interrupção de produção, mas a logística encareceu o sistema. Custos maiores ainda vieram do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Além de fornecedora de grãos, a região é uma das principais no fornecimento de insumos para a agricultura. Os fertilizantes dispararam de preços.

A pandemia forçou mudanças de rumos em alguns setores produtivos, principalmente nos de hortifrútis e de leite, dois dos mais afetados no abastecimento.

Houve um desinvestimentos por parte dos produtores com menor capital, o que provocou uma redução da oferta e uma aceleração nos preços.

O setor leiteiro é um dos exemplos. A queda na oferta de produto fez o preço do leite longa vida subir 26% apenas no ano passado nos supermercados, segundo a Fipe.

O dólar alto mudou também o comércio internacional para os brasileiros, encarecendo importações e favorecendo exportações. O país atingiu recordes de vendas externas em produtos não imaginados antes.

As exportações de trigo somaram 3,1 milhões de toneladas no ano passado. Houve aceleração das vendas externas também de arroz. Até o feijão entrou na rota das exportações.

O consumidor brasileiro, principalmente o de menor renda, vai ter de conviver com um cenário de preços elevados por um bom tempo. A inflação dos alimentos já mostra um ritmo menor de alta, mas o patamar registrado pelos alimentos não tem sinais de queda.

A demanda externa continua elevada; os preços internacionais mudaram de patamar; e a produção de grãos, por mais que os produtores tentem elevar o volume, vão depender cada vez mais de um clima inconstante.

O Brasil teve perda de produção nos últimos dois anos por adversidades climáticas, o mesmo ocorrendo nos Estados Unidos e na Europa. Provavelmente sempre haverá o país da vez.

Nesta safra, os argentinos deverão colher de 12 milhões a 14 milhões de toneladas de trigo, um volume bem inferior do que os 22,5 milhões da anterior.

Essas quebras de produção, que se tornam cada vez mais constantes, alteram o panorama internacional e exigem programas especiais de abastecimento por parte dos governos. O Brasil vai ter de se programar para isso.