Ideias para transformar gelo da Lua em água potável valem dinheiro

Gelo da Lua deverá ser derretido para consumo dos astronautas e conversão em ar respirável – iniciativas nesse sentido são premiadas

Como se sabe, a humanidade está prestes a retornar à Lua por meio das missões Artemis, da NASA, e, desta vez, o local de pouso é o polo sul lunar, uma região promissora pela presença de gelo de água, essencial para futuras missões de longa duração. 

Espera-se que a água da Lua não apenas possa ser consumida, como também decomposta em oxigênio e hidrogênio, fornecendo ar respirável e combustível. No entanto, transformar o gelo lunar em água utilizável é um desafio complexo.

O satélite Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO), da NASA, é capaz de medir quanto hidrogênio está preso no solo lunar. Ao combinar anos de dados da espaçonave, os cientistas veem evidências crescentes de áreas ricas em hidrogênio perto do polo sul da Lua, sugerindo fortemente a presença de água congelada, mesmo em regiões que nunca recebem a luz do Sol. Crédito: NASA

Pensando nisso, foi lançado o Aqualunar Challenge (Desafio Aqualunar), uma iniciativa conjunta entre as agências espaciais do Reino Unido e do Canadá. O objetivo é descobrir métodos viáveis para que futuros astronautas convertam o gelo lunar em água líquida. Recentemente, os organizadores anunciaram os dez finalistas do Reino Unido, cada um com uma proposta inovadora.

A tarefa não é simples. O gelo lunar está misturado com regolito, uma camada de poeira e fragmentos rochosos. Ao derreter, essa mistura cria uma pasta arenosa que precisa ser purificada. Além disso, as tecnologias devem suportar as condições extremas do polo sul lunar, como o frio intenso e as partículas de poeira afiadas, tudo isso mantendo a massa mínima e necessitando de pouca manutenção.

“Os astronautas não podem depender de componentes enviados da Terra e não será possível trocar filtros ou apertar parafusos regularmente”, destacou Meganne Christian, astronauta reserva da Agência Espacial do Reino Unido (UKSA) e uma das juízas do desafio.

Representação artística das concentrações de hidrogênio no pólo sul da Lua – o hidrogênio é um indicador de água. Créditos: NASA / Goddard Space Flight Center Scientific Visualization Studio

Ultrassom, centrifugador e espelhos podem ajudar a consumir a água da Lua

Entre os finalistas, há abordagens variadas e criativas. O projeto Lunasonic, por exemplo, derrete o gelo e utiliza ondas de ultrassom para purificação, semelhante a um limpador de joias. Já o Purificador de Plasma de Gelo Regolito para Exploração Lunar (RIPPLE) vaporiza o gelo, empurrando-o para um vórtice que remove poluentes, similar a um centrifugador de salada. Outra proposta, o Cálice de Ganimedes, usa espelhos para concentrar a luz solar em um crisol (refratário resistente a temperaturas elevadas) de gelo, fervendo os contaminantes sucessivamente até restar água limpa.

As equipes têm até março de 2025 para desenvolver suas tecnologias com o incentivo financeiro de 30 mil libras esterlinas (em torno de R$218 mil). Os vencedores serão anunciados no Reino Unido, incluindo um campeão e dois vice-campeões.

Enquanto isso, no Canadá, a competição também está em andamento. Oito semifinalistas foram anunciados e serão reduzidos a quatro finalistas no início de 2025. O vencedor canadense será conhecido no início de 2026.

Essas inovações são cruciais para o sucesso das missões Artemis e futuras explorações lunares. Transformar gelo lunar em água potável e utilizável é um passo fundamental para a sustentabilidade de missões de longo prazo na Lua e além.