Para a psicóloga Carolina de Freitas Nunes, diretora clínica da CogniLAB, é na educação que reside a mudança. Por isso, em Dia Internacional da Mulher, lança um desafio a todos os pais: ensinar meninas e meninos que o gênero não os define, nem no presente, nem no futuro.
Aigualdade de gênero começa em casa. “Os pais têm um papel essencial na construção da percepção dos filhos sobre igualdade de gênero e na desconstrução de estereótipos”, afirma a psicóloga Carolina de Freitas Nunes, diretora clínica da CogniLAB, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, celebrado neste sábado, 8 de março.
Ela também destaca que cabe aos pais criar “um ambiente livre de rótulos”, incentivando a liberdade de escolha “sem dividir atividades, brinquedos ou responsabilidades com base no gênero”. “Frases como ‘isso é coisa de menina’ ou ‘homens não choram’ devem ser evitadas, reforçando uma mentalidade mais aberta e igualitária”, acrescenta.
Apesar dos avanços, ainda há uma grande desigualdade entre homens e mulheres. Qual o papel dos pais nas futuras gerações?
A educação para a igualdade exige desconstrução de crenças enraizadas, desenvolvimento da empatia e autonomia, além da promoção de relações equilibradas. Ensinar as crianças a expressar emoções sem estereótipos, fortalecer a autoestima feminina e incentivar a cooperação masculina são passos essenciais. Também é necessário desconstruir ‘microagressões’, promover exemplos positivos e ensinar sobre respeito e consentimento.
A mudança acontece quando questionamos padrões automáticos e valorizamos as capacidades humanas acima das imposições de gênero.
Como os pais podem ensinar aos filhos que o gênero não deve ser um fator limitante?
Os pais desempenham um papel fundamental na construção da percepção dos filhos sobre igualdade de gênero e na desconstrução de estereótipos. Para isso, é importante criar um ambiente livre de rótulos, incentivando a liberdade de escolha sem dividir atividades, brinquedos ou responsabilidades com base no gênero.
O exemplo é essencial. As crianças aprendem observando os pais, então é importante que vejam homens e mulheres compartilhando tarefas e respeitando as escolhas um do outro. Além disso, é fundamental estimular a autoestima e a autonomia, encorajando meninos e meninas a acreditarem no próprio potencial sem limitações impostas pela sociedade.
Frases como “isso é coisa de menina” ou “homens não choram” devem ser evitadas para reforçar uma mentalidade mais aberta e igualitária. Também é importante apresentar referências diversas em diferentes profissões e incentivar o respeito e a equidade desde cedo. Meninos precisam aprender a valorizar meninas como iguais, e vice-versa. O apoio às escolhas individuais — seja no esporte, na educação ou em preferências pessoais — permite que cada criança explore livremente seus interesses sem medo de julgamentos. Os primeiros exemplos sobre igualdade começam dentro de casa.
Educar ambos os gêneros para a equidade previne padrões tóxicos nas relações interpessoais e cria um ambiente onde a igualdade é natural e compartilhada, em vez de ser vista como um privilégio concedido ou uma imposição social.
Como valorizar o papel da mulher sem desvalorizar o do homem?
Valorizar a mulher sem desvalorizar o homem exige equilíbrio, promovendo oportunidades iguais sem transformar a questão em um confronto. A igualdade amplia direitos sem substituir um pelo outro, incentivando colaboração em vez de competição. É essencial educar para o respeito mútuo, destacando modelos de equidade e reconhecendo o papel dos homens na desconstrução de desigualdades. A verdadeira equidade não exclui ninguém, mas assegura que todos tenham as mesmas oportunidades e sejam respeitados pelo que são.
Devemos focar apenas nos meninos?
Não. A educação para a igualdade deve envolver tanto meninos quanto meninas. Construir relações saudáveis e equilibradas depende da participação de ambos. Focar apenas nos meninos pode criar a percepção de que a desigualdade de gênero é um problema exclusivo de sua conduta, enquanto focar apenas nas meninas pode reforçar a ideia de que elas precisam se adaptar, em vez de promover mudanças estruturais.
Qual é a abordagem mais eficaz?
O mais eficaz é ensinar todos a reconhecer e questionar estereótipos, promovendo o desenvolvimento de empatia, respeito mútuo e autonomia. Além disso, educar ambos os gêneros para a equidade previne padrões tóxicos nas relações interpessoais e cria um ambiente onde a igualdade é natural e compartilhada, em vez de ser vista como um privilégio concedido ou uma imposição social.
E quanto às meninas? O que deve ser feito?
A educação para a igualdade deve capacitar as meninas a desenvolver autoestima, autonomia e pensamento crítico, sem sobrecarregá-las com a responsabilidade de se adaptar às desigualdades existentes. Os pais devem fortalecer sua autoconfiança, incentivando-as a reconhecer o próprio valor sem depender de validação externa. Também é importante ensiná-las sobre direitos e limites, garantindo que aprendam a expressar opiniões, recusar situações desconfortáveis e estabelecer fronteiras saudáveis.
A promoção da autonomia emocional e financeira ajuda a criar independência nas decisões, enquanto o pensamento crítico permite que questionem padrões culturais que reforçam papéis de gênero limitadores. Além disso, é essencial incentivar o apoio mútuo entre mulheres, ao invés da competitividade baseada em padrões externos. Prepará-las para identificar e evitar relações tóxicas também é fundamental, ajudando-as a diferenciar dinâmicas saudáveis de relações abusivas.
O foco deve ser garantir que elas cresçam confiantes e livres para fazerem escolhas baseadas em seu verdadeiro potencial, e não em normas impostas pela sociedade.
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