Material, extraído da seringueira, tem origem na floresta amazônica brasileira e já foi alvo de contrabando; saiba mais ouvindo o podcast ‘De onde vem o que eu como’.
Por Marina Teodoro, Helen Menezes- G1
Do material escolar ao pneu, a borracha é uma protagonista discreta do dia a dia. Mesmo sendo tão presente no cotidiano, há quem desconheça a origem desse produto, que tem o selo brasileiro em sua nacionalidade.
E não é só porque veio daqui, que o Brasil é quem domina a produção da borracha no mundo. Na verdade, até foi assim por um tempo, mas um roubo de sementes no século 19 fez com que os países da Ásia levassem a melhor – e é assim até hoje.
Para entender por que a borracha era considerada tão preciosa a ponto de ser contrabandeada, o podcast “De onde vem o que eu como” desta semana detalha esse e outros capítulos importantes da história do Brasil envolvendo o material. Spoiler: teve até uma cidade que foi erguida na Amazônia só por causa dela.
Extração de látex em um seringal. — Foto: Isuru Ranasinha/Unsplash
🎧OUÇA o episódio (acima) e, abaixo, conheça um dos símbolos da luta pelos direitos dos seringueiros.
Vítima de pirataria
A borracha vem do látex, líquido branco que sai dos troncos das seringueiras, árvores que nasceram na floresta amazônica brasileira.
A princípio, o Brasil era o único produtor desse material no mundo, mas tudo mudou depois que o inglês Henry Wickham roubou cerca de 70 mil sementes de seringueiras do Pará e as levou para a Inglaterra, em 1876.
De lá, elas foram transferidas para a Malásia, na Ásia, que, na época, era uma colônia inglesa. O contrabando tirou daqui a liderança da produção da borracha, que até hoje é ocupada por países do Sudeste Asiático, como Tailândia, Indonésia e Vietnã.
Esse foi um dos primeiros casos de biopirataria (exploração ou apropriação ilegal de recursos da fauna e flora) que se tem registro.
Objetos que usam como principal matéria-prima a borracha — Foto: Timothy Dykes/David Pennington/Diana Polekhina – Unsplash
Fordlândia, a cidade da borracha
Ao final dos anos 1920 a borracha já era matéria-prima dos pneus de carro. Pensando em impulsionar a produção de veículos, o fundador da Ford, Henry Ford, decidiu montar uma fábrica e uma cidade no Pará, às margens do rio Tapajós, na Amazônia.
A ideia era aproveitar a área para plantar mudas de seringueiras, que ajudariam no abastecimento de borracha da fábrica. E assim foi: em 5 anos a Fordlândia, como foi chamada, virou uma cidade completa.
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ABC da Amazônia: Fordlândia
Porém, uma doença devastou os seringais da região. Enquanto isso, os países da Ásia, para onde as sementes de seringueiras roubadas do Brasil foram levadas, não tiveram esse problema e os seringais prosperaram. Lá também foi inventada a borracha sintética, que passou a ser mais vantajosa para a indústria.
Esses fatos, somados a outros problemas na vida de Henry Ford, fizeram com que ele abandonasse a cidade, que nunca mais foi a mesma.
Tipos de borracha
➡️Borracha natural: derivada do látex, esse material tem mais elasticidade e resistência. A produção é sustentável, já que o cultivo das seringueiras é renovável. No entanto, as plantações são mais vulneráveis a doenças e condições climáticas, o que afeta sua disponibilidade e preço.
➡️Borracha sintética: desenvolvida principalmente a partir do petróleo ou do gás natural, ela é uma alternativa criada para substituir a borracha natural na indústria. Além de poder ser desenvolvida especificamente para cada tipo de uso, também é mais barata. Sua produção, porém, gera impactos ambientais significativos, já que depende de recursos não renováveis.
Líder dos seringueiros
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‘Conversa’ homenageia Chico Mendes e relembra os 35 anos de morte do ativista
Não se pode falar sobre a história da borracha sem citar Chico Mendes, um dos nomes mais importantes na luta pelo meio ambiente e preservação da floresta amazônica.
Nascido em Xapuri, no Acre, em 1944, ele foi um líder dos seringueiros, que se empenhou pelos direitos trabalhistas da categoria.
Desde os anos 1970, ele e seus companheiros pediam por melhores condições de vida e pela reforma agrária. No fim dos anos 1980, Chico conseguiu chamar atenção internacionalmente e foi condecorado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Contudo, em 1988, foi assassinado em sua casa, aos 44 anos, pelo filho de um grileiro a mando do pai.