Falência da Tupperware destrói famílias e é pior que ameaça da inteligência artificial

Não sei se estamos preparados para isso. Não, não estou me referindo às ameaças apocalípticas da inteligência artificial. Para tudo se encontra uma solução. Mas como, me digam como poderemos lidar com a falência da Tupperware? Será que a humanidade terá respostas para isso? Creio que não.

Os potinhos de plástico (ecologicamente incorretos e passíveis de altíssima dependência psíquica) fazem parte do cotidiano e do imaginário de todos os seres humanos que se submeteram ao privilégio de dispor desde a infância de armários de cozinha e prateleiras de utensílios domésticos. Aqueles retângulos, quadradinhos e circunferências sempre estiveram lá, para nosso alívio e desespero. Com a mais implacável vigilância de nossa mãe, tias, avós.

Não há no universo, na cosmologia, algo mais indecifrável do que o fenômeno (que nem a mais elaborada física quântica, ápice de nossa ciência, explica) como as tampas daquelas criaturas simplesmente desaparecem para sempre, sem a menor justificativa física, química ou asteroide. E a culpa sempre era das inocentes crianças ou indefesos maridos humilhados.

Não, ímpios, não venham dizer que a falência da Tupperware será compensada pela legião de empresas piratas, fazedoras de “contratipos” que fabricam toscas imitações daquelas joias que organizam nossas geladeiras. Heresia. Pecado.

Dar uma Tupperware fraudada, adulterada, à esposa equivale a presentear um adolescente com um Nike paralelo. A alegria pode até ser a mesma, mas o orgulho da conquista, do status, da realização pessoal, não, isso não se compara. Puro fracasso existencial. Deixa marcas na alma, literalmente.

É como postar estar no Bob’s em vez de no Méqui. Ninguém ostenta pobreza no Instagram. E é disso que se trata, o fim da Tupperware. O estertor de uma era de glamour e grandeza dos oprimidos. Para pobres e gente como a gente. Que morte terrível. O que faremos?

R7