Renda extra? Total? Desemprego? Nos últimos meses, a Capital sul-mato-grossense foi acometida por um “boom” de churrasqueiras instaladas nos portões das casas vendendo espetinhos por todos os bairros. Informal, o trabalho vem crescendo na busca do sustento e da manutenção das rendas. O que levou os campo-grandenses a trabalharem nesse ramo, que é verdadeira febre em Campo Grande?
Para Ricardo, foi a oportunidade. “Comecei com essa ideia devido à procura onde moro, na região do Rita Vieira. Nunca achava pra comprar e nem sempre queremos comer lanche e pizza, né? Então, coloquei em prática trabalhar com isso”, disse ele ao Jornal Midiamax.
O empreendedor trabalhava com entregas, mas decidiu parar por não conseguir pagar as contas. “Todo dia, desde 2014, pegava a moto e ia pra pizzaria trabalhar até meia-noite. Aí resolvi dar um tempo desse ramo, só que não podia ficar parado. Trabalho com carteira assinada, mas não consigo pagar minhas contas só com meu salário”, conta Ricardo.
Quanto aos espetinhos, o sucesso foi instantâneo. “Comecei cerca de 1 mês atrás, mas já vi que dá um ótimo retorno. Se trabalhar, dedicar e inovar seu serviço, dá pra tirar um bom dinheiro. Com 1 mês vendendo espetinho, já tirei um pouco a mais do que ganhava trabalhando no delivery. Não é um serviço pesado, é fácil, só tem que saber assar espetinho e, o principal, fornecer um bom trabalho desde o preparo dos espetos ao embalar para o cliente: tudo tem que estar bem apresentável”, orienta o empresário que, mês passado, apenas vendendo espetinho e mandioca, arrecadou em torno de 1.600,00 reais.
Já Arlindo, morador da região da Nasser de Campo Grande, foi arrastado para o negócio pelo desemprego. “A empresa mandou embora, fiquei sem saber o que fazer. Tinha um amigo meu que começou a fazer espetinho no Coophavila e aí eu decidi montar aqui mesmo, na porta de casa. Tá dando muito certo que eu não tô nem pensando mais em voltar pro mercado, só expandir e logo montar um local”, afirma ele ao MidiaMAIS.
No entanto, o empreendedor explica que a fórmula para o sucesso está na organização e não são todos que conseguem. “Se você não se organizar com as contas, quantidades, e ficar vendendo fiado, vai quebrar logo. Vejo muito isso acontecer, vejo muitos espetinhos não darem certo por isso. Vendem barato demais e não cobrem os gastos, então tem que ter organização financeira”, alerta Arlindo.
Informais aumentaram
Pesquisa do Sebrae e do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS) revelou um cenário otimista para quem decide investir, após os impactos da pandemia, no comércio em Mato Grosso do Sul. O estudo observou que muitos conseguiram se reinventar e buscar fontes alternativas de renda durante a crise, como quem montou espetinho na porta de casa.
De acordo com o levantamento, o nível de empreendedorismo atinge o maior patamar em MS desde o início da pandemia. O valor foi de 5% para a categoria formal e de 21% para a informal.
Para a analista-técnica do Sebrae/MS, Vanessa Schmidt, o resultado demonstra uma escalada do empreendedorismo por necessidade. “Para muitas pessoas que perderam seus empregos, ou que estavam trabalhando como informais, o empreendedorismo veio como uma opção forte de manutenção e recuperação da renda, nesse cenário incerto da pandemia”, explica.
“Ainda temos quedas de faturamento em alguns segmentos, mas temos outros que estão despontando. Com a vacinação, percebemos um clima de otimismo bem maior. E esse otimismo todo consegue influenciar de certa forma as tomadas de decisões e as questões relacionadas às intenções de consumo”, analisa a economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio, Daniela Dias. MIDIAMAX