Um metro cúbico de água, o equivalente a mil litros, pesa uma tonelada em temperatura ambiente. E quando todo esse peso está em movimento, exerce uma pressão enorme e pode varrer qualquer objeto que estiver no caminho.
Parece passagem de furacão, terremoto, mas é Cruzeiro do Sul depois da inundação. Nas áreas mais afetadas, só será possível ver o tamanho da destruição quando a água baixar.
“Você vê, assim, uma cidade inteira debaixo da água, cachorro em cima do telhado, animal. É surreal, é cena de filme, é uma catástrofe absurda”, diz o voluntário Fabrizio Gueratto.
A física explica por que a água é capaz de provocar tanta destruição. Um metro cúbico de água, o equivalente a mil litros, pesa uma tonelada em temperatura ambiente. E quando todo esse peso está em movimento, exerce uma pressão enorme e pode varrer qualquer objeto que estiver no caminho.
A água do Rio Taquari, por exemplo, chegou a cerca de 18 km/h. A força horizontal dessa água é tão grande que pode derrubar uma parede de tijolos. Fernando Dorneles, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ressalta a potência de uma enxurrada.
“Se nós formos pensar, por exemplo, a nossa matriz energética no Brasil, a gente tem muitas hidrelétricas, a gente extrai essa energia para transformar ela em energia elétrica. Então, evidentemente, quando ela está em escoamento, ela tem toda essa energia incorporada nesse fenômeno. Então objetos, obstáculos que a gente tenha no caminho das águas, certamente sofrerão esses esforços aí. Quando a gente tem uma casa dentro de uma zona aonde a gente tem profundidades maiores de água e velocidades grandes, o colapso dessas estruturas ocorre por esse motivo”, explica o professor.
Entenda como é possível a água ter tanto poder de destruição — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
O capitão Oswaldo de Andrade Filho, da Defesa Civil paulista, se prepara para se juntar às outras equipes de São Paulo no Sul. Ele diz que não dá para menosprezar o perigo.
“Infelizmente, as pessoas subestimam a força da água. Quando a gente tem uma lâmina de 15 cm de água, ela já é suficiente para arrastar uma pessoa. E 30 cm, às vezes, é capaz de arrastar até um carro”, diz ele.
Com a água a cerca de 1 m de altura, ainda que o impulso seja sair andando ou nadando, é muito difícil atravessar a enxurrada. Os obstáculos na via criam ondas e redemoinhos, sem falar da força da correnteza. Carros e objetos grande submersos podem ser arrastados e atingir as pessoas.
Com a inundação a 2 m, 3 m de altura, é preciso ir para o alto, subir nos telhados das casas, no topo das árvores, e esperar pelo resgate. Agora, imagina quando a água sobe 10 m, 20 m como em algumas cidades do Rio Grande do Sul.
“Se a Defesa Civil, se os órgãos de emergência falarem para você se retirar da sua residência, não pense duas vezes. Saia do local imediatamente. A gente entende que as pessoas têm essa preocupação com bem patrimonial, com a casa. Às vezes, tudo que a pessoa tem é a casa, só que a vida vem em primeiro lugar”, acrescenta capitão Oswaldo.