O dólar fechou em forte alta nesta sexta-feira, acima de 5,30 reais, e acumulou ganho na semana, com os mercados internacionais voltando a mostrar preocupação com a persistência da inflação nos Estados Unidos e seu impacto sobre a já agressiva trajetória de aperto monetário do Federal Reserve, o banco central do país.
A moeda norte-americana à vista ganhou 0,97% no dia, a 5,3234 reais na venda, renovando sua cotação de encerramento mais alta desde o último dia 30 (5,3941 reais), pregão que antecedeu o primeiro turno das eleições presidenciais domésticas.
Na semana, o dólar acumulou alta de 2,10% frente ao real.
Na B3, às 17:06 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,26%, a 5,3460 reais.
“Hoje a gente viu um mercado mais ‘pé no chão’, mais pessimista, até talvez uma correção do otimismo exacerbado visto ontem” na esteira de dados de inflação norte-americanos mais fortes do que o esperado, disse à Reuters Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
Dados da véspera mostraram que o índice de preços ao consumidor dos EUA subiu mais do que o esperado no mês passado—a princípio uma notícia ruim para ativos arriscados. No entanto, os principais ativos de risco do fecharam a quinta-feira com viés amplamente positivo, num movimento que muitos especialistas definiram como confuso e contraintuitivo.
Apesar do movimento de quinta-feira, a leitura de inflação “determina que o Fed precisar apertar mais a taxa de juros, ser mais ‘hawkish’ (agressivo no combate à inflação)”, avaliou Izac, o que é, num geral, ruim para ativos arriscados.
Colaboraram para a cautela de investidores uma série de comentários de autoridades do Fed nesta sexta-feira, que, no geral, reforçaram compromisso com a redução do ritmo de alta dos preços, e dados mostrando que as expectativas de inflação das famílias norte-americanas se deterioraram em outubro.
Diante da perspectiva de juros mais altos nos EUA, investidores do mundo inteiro tendem a redirecionar capital para o mercado de renda fixa dos EUA, que ofereceria retornos maiores sob um risco muito baixo, beneficiando o dólar globalmente. Além disso, o aperto monetário rígido pelo Fed tem levantado temores de recessão, o que vem elevando a demanda pela segurança da divisa norte-americana.
“O ambiente internacional tem se tornado mais hostil para moedas arriscadas, na esteira de políticas monetárias mais restritivas nas economias avançadas combinadas com temores crescentes quanto a uma desaceleração mais intensa na economia mundial”, disseram Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil, e sua equipe em relatório desta sexta-feira.
No entanto, “o elevado patamar da taxa de juros doméstica e as visões construtivas do mercado acerca da política econômica futura têm ajudado a reduzir o prêmio de risco dos ativos brasileiros –e, em particular, a taxa cambial”, avaliaram os economistas.
A taxa Selic está em 13,75% ao ano, depois que um longo e antecipado ciclo de aperto monetário pelo Banco Central do Brasil a tirou do menor patamar histórico de 2%, atingido durante a pandemia. Assim como juros mais altos nos EUA tendem a beneficiar o dólar ao impulsionar os retornos da renda fixa local, o mesmo vale para a Selic e o real.
O Santander espera que o dólar encerre este ano em 5,30 reais.
Enquanto isso, Izac, da Nexgen, disse que investidores ainda estão atentos aos desdobramentos da corrida eleitoral doméstica, embora o noticiário local tenha ficado em segundo plano nesta semana devido à magnitude dos catalisadores externos e ao feriado do Dia de Nossa Senhora Aparecida, que manteve os mercados brasileiros fechados na quarta-feira.
O foco deve ficar sobre as pesquisas eleitorais antes do embate entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno do pleito presidencial, no dia 30 de outubro, afirmou Izac.
Fonte: Reuters