O dólar avançou frente ao real nesta quarta-feira, em linha com movimento internacional de aversão a risco após as eleições de meio mandato dos Estados Unidos, enquanto investidores continuavam acompanhando as discussões em torno da agenda fiscal de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em meio a incertezas sobre quem será o ministro da Fazenda do governo brasileiro eleito.
A moeda norte-americana à vista ganhou 0,67%, a 5,1845 reais na venda, patamar de encerramento mais alto desde 28 de outubro (5,3023), após mostrar volatilidade durante as negociações.
Na B3, às 17:05 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,37%, a 5,1930 reais.
No exterior, o índice que compara o dólar a uma cesta de seis rivais fortes saltava 0,94% nesta tarde, acompanhando aceleração das perdas de Wall Street, depois que investidores se decepcionaram com o resultado preliminar das eleições de meio de mandato dos EUA.
Muitos investidores esperavam uma “onda vermelha” nas eleições norte-americanas, com os republicanos conquistando maiorias tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, mas os democratas tiveram desempenho melhor do que o esperado segundo os votos apurados durante o dia e conseguiram garantir assentos cruciais no Congresso.
Os republicanos são vistos como muito mais pró-mercado do que os democratas, o que explica o clima de cautela dos investidores em meio à apuração dos resultados eleitorais.
Passada a votação nos EUA, o foco de investidores passa agora para dados de inflação norte-americanos com divulgação agendada para quinta-feira, que podem ditar a trajetória futura de aperto monetário do Federal Reserve, disse Luiz Souza, operador de renda variável da SVN Investimentos.
Segundo ele, dados acima do esperado podem forçar o banco central dos EUA a adotar uma postura mais “hawkish”, ou dura no combate à inflação, ao aumentar os juros. O Fed já subiu os custos dos empréstimos em 3,75 pontos percentuais desde março deste ano, e quanto mais sua taxa básica avança, mais o dólar tende a ficar atraente frente às demais moedas.
Enquanto isso, no Brasil, participantes do mercado aguardavam definições mais concretas sobre que mecanismo o governo eleito utilizará para permitir gastos extra-teto em 2023 de forma a cumprir promessas de campanha de Lula, como a manutenção dos 600 reais do Auxílio Brasil e o reajuste real do salário mínimo. Em reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Lula afirmou que prefere uma PEC para viabilizar as mudanças que pretende fazer.
Marco Caruso economista-chefe do Banco Original, notou receios do mercado em torno dos gastos perseguidos para o ano que vem, e disse que a falta de indicações claras sobre quem será o ministro da Fazenda do petista torna o cenário especialmente complicado.
“Você não combinou com quem vai comandar a pasta o que vai se fazer e como vai se fazer? Então o mercado acaba cobrando um certo prêmio sobre isso”, disse o especialista.
Na segunda-feira, por exemplo, o dólar à vista disparou 2,39%, a 5,1733 reais na venda, maior valorização percentual diária desde 24 de outubro (+2,94%), devido aos receios sobre a pasta econômica de Lula.
“Mas, no fundo, hoje, quando a gente olha esses 5,15, 5,20, é um câmbio que está em compasso de espera. Eu, sinceramente, quando eu olho este câmbio, me parece que pressupõe algum tipo de nome forte (no Ministério da Fazenda), mais alinhado com as incertezas e os anseios do mercado”, ponderou Caruso.
Ele entendeu a configuração da equipe econômica de transição do governo eleito como uma sinalização promissora, já que equilibrou economistas mais favoráveis à agenda social do PT—Guilherme Mello e Nelson Barbosa—e profissionais mais ortodoxos e moderados na visão do mercado—André Lara Resende e Pérsio Arida.
“Acho que mostra uma predisposição (do governo eleito) a discutir uma frente ampla do lado da economia também. No mínimo, mostra uma predisposição para ouvir”, completou Caruso.
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Fonte: Reuters