Hortaliças, cana-de-açúcar e banana são os cultivos que mais sofrem com geadas por serem sensíveis às temperaturas baixas, segundo pesquisadores. Tomate, que já é ‘vilão’ da inflação, também pode ser afetado.
A onda de frio que vai atingir grande parte do país até domingo (22) deixa agricultores em alerta, principalmente os que plantam hortaliças, banana e cana-de-açúcar. Isso porque, em caso de geada, essas culturas costumam ser as mais sensíveis, dizem pesquisadores consultados pelo g1.
Se esses alimentos forem afetados, o frio pode resultar em produtos com menos qualidade e ainda mais caros — lembrando que alguns legumes, frutas e o café estão entre os itens que mais subiram de preço nos últimos 12 meses, até abril.
A geada acontece quando é formada uma camada de gelo nas superfícies por conta da intensa redução de temperatura quando a umidade do ar está elevada. E a previsão é de que ela possa ser registrada:
- Nos estados do Sul: que são voltados para os cultivos de soja, carne, milho, cana-de-açúcar, hortaliças e algodão;
- No Mato Grosso do Sul: estado grande produtor de soja. Há também cultivos de arroz, café, trigo, milho, feijão, mandioca, algodão, amendoim, cana-de-açúcar e hortaliças;
- No sul de Minas Gerais: grande produtor de café e batata. Há também o desenvolvimento da horticultura;
- No sul e oeste de São Paulo: produções de café, hortaliças, cana-de-açúcar e milho.
Consequências do frio
Na maioria das áreas, as temperaturas não caíram nesta quarta-feira (18) ao ponto em que geadas severas podem se formar sobre as plantações, informaram metereologistas. Há ainda uma pequena chance de o atual cenário de massa de ar polar trazer geadas esta semana.
“Hortaliças como a batata, a alface e o tomate não são nada resistentes ao fenômeno. Se os cultivos forem destruídos, terá grande impacto”, afirma João Paulo Bernardes Deleo, pesquisador de hortaliças do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
“Com a geada, sempre haverá a perda do limbo foliar [parte principal] e, consequentemente, afetará a planta. Claro que as hortaliças folhosas, por a folha ser justamente o produto comercial, são as mais afetadas”, complementa Thiago de Oliveira, chefe do setor da economia da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).
Todas as regiões brasileiras produzem hortaliças folhosas. Entretanto, as regiões Sudeste e Sul concentram a maior parte da produção.
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Tomate já é ‘vilão’
Tomate foi um dos alimentos que mais tiveram alta no preço nos últimos 12 meses — Foto: Roberto Gardinalli/Futura Press/Estadão Conteúdo
No caso do tomate, Deleo explica que temperaturas muito baixas já podem ser prejudiciais. “Quando tem muito frio, a maturação acaba sendo retardada. Consequentemente, se temos menos produto, o preço não tende a diminuir e pode ser que aumente. Mas se houver um aumento de temperatura na sequência, a maturação do tomate fica acentuada e o preço diminui novamente ou nem tem tanto impacto”, explica o pesquisador do Cepea.
A oferta do legume já vem sendo prejudicada por causa de uma área menor de plantio, desde o começo da pandemia, e pelas chuvas do começo do ano.
O preço do alimento subiu mais 100% nos últimos 12 meses, e começou a baixar neste mês, mas o reflexo no bolso do consumidor só será sentido se o clima permitir.
Ações para diminuir os impactos
A massa polar já chegou à Região Sul. Santa Catarina, por exemplo, registrou -2,4ºC em Bom Jardim da Serra nesta terça-feira (17). Por conta disso, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) divulgou uma série de recomendações para minimizar prejuízos futuros na agropecuária local.
Para o gado de corte, por exemplo, a principal orientação para evitar a queima do pasto com geadas muito fortes é usar o máximo da vegetação para alimentar o gado ainda antes do frio intenso, principalmente nos casos onde se cultiva aveia, que é mais sensível ao frio intenso.
As baixas temperaturas também podem causar prejuízos para a criação de abelhas, pois provocam o resfriamento do ninho e até mortalidade de larvas.
“Os apicultores devem evitar abrir as caixas, pois há perda de calor e muito gasto de energia e alimento para elevar a temperatura às condições adequadas novamente”, recomenda o Departamento Estadual de Extensão Rural e Pesqueira, que faz parte da Epagri.
Outra preocupação da empresa é com as produções de banana e do maracujá, já que as geadas podem ocasionar danos em folhas e frutos, antecipando o final da safra.
“As práticas indicadas são a suspensão do transplantio das mudas das bananas até que o frio passe, antecipação da colheita dos cachos e ensacamento daqueles não colhidos. Também devem ser ensacadas as inflorescências recém-emitidas. Após a geada, é importante estar atento à eliminação das folhas secas”.
Urupema, na Serra catarinense, registra neve nesta terça-feira (17) — Foto: Tiago Ghizoni/NSC
Por Paola Patriarca, g1