Garimpeiros têm fugido do território no meio da floresta e por barcos lotados de pessoas nos rios. Terra Yanomami é região de difícil acesso, com área de florestas fechadas e montanhosas. Em abril do ano passado, relatório indicava que voo clandestino custava R$ 11 mil.
Por Yara Ramalho, Marcelo Marques e Valéria Oliveira, g1 RR — Boa Vista
Com o controle do espaço aéreo na Terra Indígena Yanomami, realizado pela Força Aérea Brasileira (FAB), garimpeiros que estão no maior território indígena do país não conseguem voos clandestinos para deixar a região. Áudios e mensagens enviados em um grupo de mensagens mostram as tentativas deles em conseguir aviões ou helicópteros. Com o cenário, os invasores têm fugido pela floresta e pelos rios.
Em um grupo chamado de “Amigos do Rio Uraricoera” – em referência à principal via fluvial usada pelos garimpeiros para chegar aos acampamentos dentro da Terra Yanomami –, uma pessoa diz que tem ao menos 5 mil garimpeiros em busca de sair do local, mas não há voos.
“Aqui onde estou tem mais de cinco mil pessoas na região só para ir embora, nós queremos ir. Mas, não tem é voo, o povo [pilotos] está com medo de vir”, diz.
No texto, a pessoa ainda diz que tentou voos com oito “burus”, que são helicópteros, e nenhum deles aceitou ir até a região.
Garimpeiros procuram voos para sair da TI Yanomami — Foto: Reprodução
Em outras conversas, garimpeiros relataram que grande parte dos invasores não tem como sair da região por estarem com malária e, com isso, não aguentam caminhar na floresta.
“[Os garimpeiros] estão se juntando em grandes grupos e fazendo varação [caminhada] na mata para a única pista de voo que está funcionando ainda, a pista do Jeremias”, diz um deles.
A pista do Jeremias é uma das principais rotas usadas pelos garimpeiros para entrar e sair da Terra Yanomami. O frete aéreo é o modo mais caro para se acessar os garimpos instalados na floresta.
Em 2022, o relatório “Yanomami sob ataque“, divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), indicou que o valor de uma viagem para as pistas Rangel, Cascalho, Jeremias, Espadim, Malária e Pau Grosso, principais pistas clandestinas da TI, custam cerca de R$ 11 mil.
O espaço aéreo é controlado pela FAB desde a última quarta-feira (1º), com aeronaves equipadas com radares superpotentes.
A estimativa é que ao menos 20 mil garimpeiros estejam na Terra Indígena Yanomami. A ação ilegal deles causou uma crise humanitária sem precedentes no território. São pouco mais de 30 mil Yanomami na área que deveria, por lei, ser preservada. No entanto, tem sofrido com o avanço do garimpo ilegal, que só em 2022 cresceu 54%.
Vídeos que circulam nas redes sociais desde a última quinta-feira (31) mostram homens e mulheres em grupos deixando a região caminhando pela floresta e pelos rios, em barcos lotados