Publicada em: 8 de março de 2018.
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Nas palestras, produtor recebeu informações sobre o futuro da política agrícola brasileira, formas de aumentar o lucro na venda e os métodos de manejo que melhoram a renda no campo
Daniel Popov, de São Paulo
A safra 2017/2018 da soja vai chegando ao seu final no Brasil, e o Fórum Soja Brasil começa a trazer para os produtores algumas discussões importantes para o planejamento da próxima temporada. Nesta quinta, dia 8, durante a feira Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS), as quatro palestras apresentadas discutiram o futuro da política agrícola brasileira, aumento da margem de lucro e métodos de manejo para garantir a renda no campo.
Com a presença do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, foram abertos os trabalhos do dia, com o debate sobre a política agrícola brasileira. O secretário ressaltou que os programas nacionais são bons, e as melhorias esbarram na falta de verba do governo federal.
“Nós temos vários programas para ajudar o setor. Disponibilizamos mais de R$ 192 bilhões para programas específicos, como a armazenagem, com até 15 anos de prazo para pagamento e 3 anos de carência. Se isso não é visão estratégica, não sei o que é”, diz Geller.
Palestra sobre as politicas publicas
Por sua vez, o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ademiro Vian, discordou que a política agrícola brasileira é eficiente, garantindo que ela é ultrapassada e excludente.
“Focando no crédito, nossa política é excludente. Para que a política pública seja eficiente, ela precisa ser universal, ou seja, estar à disposição para 100% do setor ou para a grande maioria. A atual atende no máximo 18% dos produtores brasileiros. É uma política regionalizada, que atende apenas algumas commodities, que está mais preocupada com o setor financeiro do que com o produtivo”, destacou o professor.
Veja a reportagem completa sobre esta palestra
A crítica do especialista não para por aí. Para ele, os bancos só oferecem crédito para pessoas jurídicas, cobram garantias absurdas para os pequenos e atendem apenas algumas commodities. “Sem falar na burocracia, vendas casadas e garantias impossíveis de cumprir”, diz. “A prova é que os bancos não têm metas para vender crédito rural. Por isso, o Pronaf foi praticamente banido dos bancos privados.”
Produtividade X lucro
Pesquisador do Cepea, Mauro Osaki
Outra palestra que também abordou o tema financeiro foi a do pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) Mauro Osaki. Ele explicou por que o setor tem vivido tantos altos e baixos na rentabilidade e afirmou que o produtor precisa mudar a maneira de planejar a safra e os ganhos.
“De 2007 até 2011, a rentabilidade do produtor girava em torno de R$ 450 por hectare. Isso mudou de 2012 a 2016, e saltou para mais de R$ 1 mil por hectare, fazendo com que muitos produtores acreditassem que essa seria a nova realidade. Só que em 2017 e neste ano, os patamares de rentabilidade voltaram para os registrados antes de 2012. Isso tudo não teve uma única causa, claro. E é preciso entender o que aconteceu”, diz Osaki.
Veja a reportagem completa sobre esta palestra
Independentemente do momento econômico que o setor enfrenta, Osaki ressalta que o produtor precisa mudar o jeito de projetar a sua safra. “Muitas vezes, a preocupação é ter alta produtividade. E só na colheita se verifica a margem. Mas o ideal é pensar: se eu tiver tal produtividade, qual será a minha margem? Pois não adianta nada produzir 70 sacas com custo de 69 sacas. Isso não faz sentido”, destaca ele. “Em 2010, produziam-se 50 sacas e sobrava mais dinheiro que hoje.”
Manejo para alta rentabilidade
Henrique Debiasi, durante sua palestra
Quase todo produtor brasileiro garante fazer uso da técnica de plantio direto em sua propriedade. Só que a realidade não mostra isso. Durante a palestra que apresentou no Fórum Soja Brasil, o pesquisador da Embrapa Henrique Debiasi mostrou que apenas 10%, ou menos, fazem a rotação de culturas (em vez da sucessão soja/milho/trigo). O resultado? Baixas produtividades, erosões e invasão de pragas e doenças.
Segundo Debiasi, o resultado dessa baixa adoção do sistema em sua plenitude, com a rotação de culturas, mínimo revolvimento do solo e cobertura permanente da superfície, é a quantidade de relatos de erosão em todo o Brasil. “Mesmo em áreas planas isso está acontecendo. O Paraná, que já foi um estado exemplar nos cuidados com o solo, já perdeu essa qualidade, e os casos por lá estão se multiplicando”, ressalta.
Ele garante que isso não é uma suposição ou estimativa, já que as pesquisas comprovaram os ganhos. “Isso não é achismo. Nós testamos tudo, fizemos experimentos, e os resultados foram de R$ 200 a R$ 300 a mais por hectare de lucro. Isso mantendo a soja na safra verão e, no inverno, em vez de fazer apenas o milho, trigo ou pousio [terras que são deixadas para repousar, sem cultivo], coloca-se braquiária ou milheto”, explica.
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