Pelos meios de comunicação de nosso Estado, a população sul-mato-grossense acompanhou com vivo interesse a caravana de empresários e autoridades públicas na viagem promocional que fizera pelo pretenso trajeto final da rodovia Bioceânica interligando os portos de Santos, no Atlântico à Arica, ou Antofagasta, no Pacífico. Foi um importante passo para a concretização que se agasalha há mais de século, tantas vezes frustrada.
Desde a antiga capital do Brasil, a Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro, ainda quando o Barão do Rio Branco era o titular do Ministério das Relações Exteriores se fala da importância estratégica, política e econômica da interligação entre as duas bacias, sobretudo pela visão brasileira.
Rolam os mandatos presidenciais e neles a proposta bioceânica é analisada com feições meramente empíricas, até que o presidente Getúlio Vargas, no início da década de quarenta do século XX, em viagem oficial a Assunção, capital da República do Paraguai, aborda a importância da interligação ferroviária ou rodoviária entre os oceanos que banham o continente sul-americano.
A boa ideia só voltou à memória das autoridades, sobretudo brasileira, no período governamental do presidente Ernesto Geisel quando se aventou várias alternativas para interligação por via terrestre dos dois oceanos: pela região amazônica partindo do estado do Acre rumo a um porto em território do Peru; partindo de Corumbá, adentrando rumo oeste em terras da Bolívia até o porto de Arica no Chile ou mesmo de outro no Peru.
Aqui, lembro de um detalhe importante. Por volta da primeira metade dos anos 50 de século passado, por iniciativa do então governador de Mato Grosso uno, o saudoso doutor Fernando Corrêa da Costa e apoio do presidente Vargas foi assinado com o governo boliviano o Acordo de Roboré, na cidade boliviana que lhe deu o nome, segundo o qual seria construído de Corumbá a Santa Cruz de La Sierra e até Cochabamba, uma ferrovia em seguimento aos trilhos da então Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), já existentes.
Pelo Acordo, deram-se os primeiros passos para a exploração do petróleo boliviano e seus sucedâneos bem como a presença brasileira em atividades agropecuárias nas ubérrimas terras da região leste do país vizinho.
Voltando as alternativas preconizadas no governo Geisel, foram lembradas rodovias partindo de Foz do Iguaçu, no Paraná, de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, essa rumo a Valparaíso, no Chile, esta já em intensa utilização, nada obstante não atender convenientemente às economias de outras amplas regiões de nosso País. Sem dúvida, a rota mais curta, e hoje a mais reclamada é a que partiria de Santos e demandaria a Iquique, no Chile.
Quando assumi o Senado, uma de minhas preocupações fundamentais foi levantar o debate sobre a rota bioceânica ligando o Atlântico ao Pacífico via as rodovias do estado de São Paulo, adentrando em nosso Estado pelas rodovias federais BR-267, 063, 060, novamente 267, até Porto Murtinho, e daí pelos territórios do Paraguai, da Argentina, cruzando os Andes adentrando ao Chile até o porto de Arica.
Me valeram o apoio caloroso de meus colegas senadores Delcídio do Amaral, Valdemir Moka e do deputado Reinaldo Azambuja, hoje governador do Estado, o qual nesta condição tem dado fôlego valioso ao projeto.
Impõe-se também ressaltar porque justo os esforços de dois murtinhenses, o ex governador José Orcírio Miranda dos Santos e seu irmão, o então prefeito Heitor Miranda dos Santos, sem dúvida em nossa era os intimoratos batalhadores pela implantação da Rota, aos quais deve se creditar a primasia dessa teimosia cívica.
O empecilho atual é a travessia do caudaloso Rio Paraguai, entre a cidade de Porto Murtinho e o lugarejo cel. Carmelo Peralta, à margem esquerda.
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O compromisso de construir a ponte ligando as duas localidades foi o ponto alto das conclusões da audiência pública realizada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado da República, por mim requerida e realizada em seis de agosto de 2014, cujos autógrafos eu tenho.
Pelo que se realizou em passado recente, reiterado agora pelos resultados positivos que nos trouxe a caravana de empresários e autoridades do governo do Estado e da prefeitura de nossa Capital, vale sonharmos juntos – homens da produção, líderes da comunidade e a população –, na convicção serena de que em muito breve a rota Bioceânica será uma virtuosa realidade.CORREIO DO ESTADO