De acordo com depoimento do empresário, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega atuava para ajudar a JBS no banco de fomento; dinheiro teria financiado campanhas políticas.
O frigorífico JBS exercia influência no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, de acordo com depoimento de Joesley Batista. O empresário conta que pagava como propina uma taxa de 4% do valor de cada contrato aprovado no BNDES, assim como dos aportes financeiros feitos por meio da BNDESpar, o braço do banco que investe em participações de empresas e é acionista da JBS.
A JBS se tornou a maior empresa de carnes do mundo com o apoio do BNDES. O faturamento da companhia saltou de R$ 4 bilhões para R$ 170 bilhões entre 2006 e 2016, impulsionado por aquisições, como a compra do frigorífico Bertin e das empresas americanas Swift e Pilgrim’s Pride, financiadas pelo BNDES.
Outras empresas do grupo também se beneficiaram do apoio do BNDES. A Eldorado recebeu um financiamento de R$ 2 bilhões para construir sua nova fábrica, em Três Lagoas. “Só por conta dele que saiu”, disse Joesley, em referência a Mantega.
Apoio de Mantega
A aproximação com Mantega começou em 2005, quando ele ainda era presidente do BNDES. Nessa época, a JBS apresentou seu plano de internacionalização e pediu apoio ao banco. Desde o primeiro empréstimo, um crédito de US$ 80 milhões para a compra da Swift Argentina, em 2005, houve pagamento de propina, relata Joesley.
Mantega foi para o Ministério da Fazenda em 2006 e Luciano Coutinho assumiu a presidência do BNDES. Mesmo após a troca de comando no banco estatal, Joesley relata que sempre tratou de trâmites no banco com Mantega.
“Tinha vezes que era constrangedor que eu ia em uma reunião com o Guido, o Luciano tava. E eu percebi que o Luciano ficava claramente constrangido porque ficava parecendo que ele não sabia que eu ia chegar na reunião, sabe?”, disse Joesley.
Em paralelo às negociações com Mantega, a JBS entrava com o processo no BNDES por meio do trâmite normal. Joesley reclamou em vários momentos da dificuldade de obter crédito no BNDES e chegou a afirmar que tinha mais dificuldades em aprovar projetos do que seus concorrentes.
“Eu acho que (o pessoal técnico do BNDES) era mais rigoroso (comigo) do que com os meus concorrentes. Eu sempre achei que os meus concorrentes tinham vida mais fácil do que eu. Eu não sei se exatamente pra poder me vincular a ter que pagar propina ou se eu não merecia mesmo. Ou se eu sou um sujeito que mereço menos. Porque ter crédito é danado mesmo”, reclamou.
Pagamentos
Segundo o empresário, os pagamentos foram feitos durante anos, em duas fases. Entre 2005 e 2008, o empresário Victor Sandri, que apresentou Joesley a Mantega, recebia o pagamento. A partir de 2009, Joesley passou a tratar diretamente com Mantega.
“Foi andando o ano e eu já fui tratando direto, me relacionando direto com o ex-ministro Guido. Logo na segunda ou terceira oportunidade eu já chamei ele pra ele ver como é que funcionaria, o negócio do dinheiro e tal. (…) Eu falei ‘ministro, agora como é que eu faço?’ Ele falou: ‘É o seguinte: fica com (o dinheiro) você. Eu não quero que você mande pra conta nenhuma.’ Eu falei ‘tá. Mas comigo como?’ Ele falou ‘Não. Fica o crédito contigo, não precisa mandar pra ninguém, um dia que eu precisar eu te falo'”, relata Joesley.
O empresário diz que abriu uma conta no exterior para fazer os depósitos referentes à propina de Mantega e que mostrava extratos para o ex-ministro da Fazenda. Mantega teria pedido a Joesley para abrir uma conta diferente quando mudou o governo de Lula para Dilma.
Ele diz que Mantega passou uma lista de políticos e partidos para Joesley efetuar doações em 2014. Naquela época, o saldo total das duas contas era de US$ 150 milhões em 2014. O dinheiro todo foi usado para financiar a campanha política de 2014, por meio de doações legais.
Joesley disse que teve reuniões com os ex-presidentes Lula e Dilma para alertar que o volume de doações estava elevado e chamaria atenção.
Outro lado
O G1 tentou contato com os advogados de Guido Mantega e Victor Sandri, mas não conseguiu falar com eles.
O BNDES informou na terça-feira (16) que abriu uma comissão de apuração interna para avaliar os fatos relacionados à Operação Bullish, que investiga fraudes e irregularidades em aportes concedidos através BNDESPar, braço de participações do banco, ao frigorífico JBS.
“Foi constituída, nesta terça-feira, 16, pela presidente do BNDES, Comissão de Apuração Interna para avaliar todos os fatos relacionados às operações realizadas pelo Sistema BNDES com a empresa JBS, tendo em vista o inquérito em andamento na Polícia Federal e o interesse da Diretoria e dos empregados do Banco na apuração dos atos e fatos relacionados a essas operações”, diz o BNDES em comunicado.
Fonte: G 1