Para o analista Paulo Molinari os produtores brasileiros têm até agosto para desovar a safra 2016/2017 e evitar que o excesso do produto no país afete ainda mais o mercado interno
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Daniel Popov, de São Paulo
O ritmo de comercialização da safra 2016/2017 de soja está 30% mais lenta diante do que normalmente se vende até o dia 5 de maio. Todos os estados, sem exceção, estão com atraso neste quesito. A razão? Preços pouco remuneradores e com isso os produtores resolveram “sentar” sobre a soja e aguardar um momento mais adequado para negociar. Só que isso pode trazer problemas mais sérios para o setor, garante o analista de mercado Paulo Molinari, da Safras & Mercado e o futuro ficar complicado para a rentabilidade. Este sentimento é, inclusive, um consenso no mercado brasileiro.
Antes de qualquer coisa, vale lembrar que a China é a principal compradora, disparada, de soja do mundo, com 88 milhões de toneladas. Brasil e Estados Unidos respondem juntos por 70% de toda a soja produzida no mundo e quase pela totalidade de venda para os chineses. Isso tudo na safra 2016/2017, no qual os produtores brasileiros estão segurando a soja. “Os americanos fizeram a sua parte, colheram, não ligaram para preços baixos e saíram vendendo fortemente toda a sua produção. Fizeram isso sabendo que, não só nesta temporada, a safra mundial seria um recorde, mas também a próxima. Se eles venderam mais e para a China, para quem o Brasil irá vender?”, destacou Molinari.
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Molinari exemplifica como a situação brasileira, diante desta safra recorde, deveria se comportar para evitar problemas nos preços. Com a previsão de colher 111 milhões de toneladas nesta temporada, quase 15% a mais que o ano passado, seria preciso ampliar os embarques ao exterior em pelo menos 16% este ano, ou seja, sair dos 5,5 milhões de toneladas, para pouco mais de 61 milhões, que representaria um recorde histórico ao país (O maior volume foi em 2015 com 54,6 milhões de toneladas).
O consumo interno, estagnado há tempos em torno de 40 milhões de toneladas, teria que subir pelo menos a 41 milhões. Ainda assim, sobraria tanta soja no mercado interno que os estoques de passagem saltariam de 2,2 milhões, para pelo menos 8,8 milhões de toneladas, um incremento de 300% do ano passado para este. “Até agora exportamos 10,1 milhões de toneladas, pouco a mais que o ano passado e estamos no período considerado pico de vendas ao exterior. Se o produtor não vender logo, a chance de o Brasil ficar com soja encalhada é grande”, garante o consultor. “Ou seja, além de ter preços baixos para a soja, teremos um estoque recorde no Brasil e 2018 será ainda mais complicado.”
Para piorar ainda mais a situação, os argentinos que não disputam mercado com o Brasil nas vendas do grão da soja, mas são os principais vendedores de farelo e óleo, também estão colhendo uma safra recorde. Com isso, os embarques brasileiros destes derivados devem encolher, devolvendo a Argentina a fatia perdida no ano passado por falta de produto. “A Argentina isenta totalmente as vendas externas de farelo e óleo. Isso é um grande diferencial competitivo deles. Com a grande produção de soja por lá, certamente eles retomarão parte das vendas que perderam para o Brasil”, explica Molinari.
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Safra 2017/2018
Para a próxima temporada o horizonte não é muito animador. Segundo dados do departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA) os americanos estão menos confiantes na produção de milho, por conta dos preços e do clima e estão apostando no aumento da produção de soja. Se isso se confirmar eles podem superar a casa dos 120 milhões de toneladas de soja em 2017/2018. “Tudo leva a crer em uma super safra nos Estados Unidos de novo, até porque eles estão apostando alto na cultura”, comenta Molinari.
No Brasil, não há qualquer perspectiva de redução de área para a próxima temporada, já que não há nenhum outra cultura que substitua a soja em termos de preço. “Imagine se os dois países apresentam novas supersafras ao mundo? Já estamos produzindo a quantidade de soja para atender a futura demanda de 2020. Só um desastre climático poderia limitar estes avanços”, diz o consultor.
O que o produtor deve fazer
Para muitos analistas de mercado o que aconteceu no ano passado, com preços recordes e produtores esperando subir ainda mais, deve servir de alerta para o futuro. Segundo Molinari este tipo de atitude não cabe mais na agricultura moderna e os reflexos são extremamente ruins para o setor. “Hoje, tudo é digital e acontece muito mais rápido. O produtor brasileiro precisa entender que a comercialização mais profissionalizada é uma questão de sobrevivência. Isso representa 50% do negócio dele, não é só plantar”, conta ele. “Ficar esperando que os preços subam ainda mais para vender e perder a oportunidade de travar pelo menos os custos não é uma estratégia de negócio, é burrice.”
Para Molinari, o produtor deve se debruçar sobre as cotações e vender sempre que uma oportunidade razoável aparecer, sem esperar mais, afinal em setembro a safra americana entra novamente e a chance de o brasileiro não conseguir preços bons é enorme. “Até agosto a previsão do mercado é que os preços da soja continuarão voláteis, baseados no clima dos Estados Unidos. E possivelmente o câmbio também, principalmente por efeitos que a política americana ou brasileira possam causar. O produtor precisa aproveitar isso e vender rápido. Isso se a China comprar, é claro”, afirma o analista da Safras & Mercado.
Além disso, o especialista comenta que o produtor brasileiro já precisa começar a pensar em 2018, porque o preço futuro de maio 2018 não está ruim, em torno de US$ 9,80 por bushel. “Vá a mercado e trave as vendas para o ano que vem. Isso pode ser a diferença entre ter alguma rentabilidade ou ter que pedir ajuda para o governo para pagar as contas”, finaliza ele.
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