Crise venezuelana entra em nova fase de tensão
Crise na Venezuela: além da inflação, escassez de alimentos e corte de água e luz, o presidente Nicolás Maduro agora decretou estado de exceção no país.
AFP/Arquivos, da AFP
A crise venezuelana entrou nesta semana em uma nova etapa de tensões, com um país sob estado de exceção e os opositores decididos a seguir pressionando nas ruas por um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.
Em meio ao descontentamento popular pela escassez crescente de alimentos básicos e remédios, além dos cortes diários de luz e água, e a maior inflação do mundo, Maduro deu mostras de radicalismo nos últimos dias.
Na sexta-feira, o presidente prorrogou um decreto de emergência econômica em vigor desde janeiro, mas de forma surpreendente acrescentou a ele um estado de exceção por dois meses.
Segundo nota oficial, o estado de exceção autoriza o Executivo a adotar decisões para garantir à população o “desfrute pleno de seus direitos, preservar a ordem interna” e reduzir os efeitos de fenômenos climáticos que afetam a geração elétrica e o acesso aos alimentos.
Entre as justificativas para o estado de exceção, o decreto destaca que a oposição pretende o “desconhecimento de todos os poderes públicos” e promove a “interrupção do período” de Maduro, em referência ao referendo para revogar seu mandato.
O decreto ordena à Força Armada Bolivariana e aos demais órgãos de segurança que “garantam a correta distribuição e comercialização de alimentos e produtos de primeira necessidade”.
A medida se associa aos recém-criados Comitês Locais de Abastecimento e Distribuição (CLAP), grupos de cidadãos encarregados da entrega direta de alimentos subsidiados para evitar que terminem nas mãos de contrabandistas.
Maduro atribuiu ainda aos CLAPs “funções de vigilância e de organização”, conjuntamente com a Força Armada e a Polícia, “para manter a ordem pública e garantir a segurança e a soberania do país”.
O presidente já havia ordenado a tomada das indústrias paradas, colocando na mira quatro fábricas da cervejeira Polar – principal produtora de alimentos e bebidas do país – fechadas por falta de divisas para comprar insumos no âmbito do ferrenho controle cambial.
O governo justifica o estado de exceção por um suposto complô dos Estados Unidos e de líderes opositores para intervir no país com as maiores reservas de petróleo do planeta, sob o pretexto de uma crise humanitária.
Diante desta “ameaça externa”, Maduro ordenou a realização no próximo sábado de exercícios militares.
Nesta segunda-feira, os Estados Unidos expressaram sua preocupação com as “terríveis” condições de vida dos venezuelanos, e pediram a Maduro que escute os críticos para não aprofundar a crise.