Não é tudo igual: leite e carne orgânicos possuem 50% mais ômega
O leite e a carne orgânicos diferem dos produzidos convencionalmente na quantidade de certos nutrientes, em particular os níveis de ácidos graxos ômega 3, 50% mais elevados, apontou uma revisão de estudos científicos divulgada na semana passada.
“A composição de ácidos graxos é definitivamente melhor”, disse Carlo Leifert, professor de Agricultura Ecológica da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, e líder de uma equipe internacional que realizou a revisão.
A Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, e a Sheepdrove Trust, uma instituição de caridade britânica que apoia a pesquisa de agricultura e agropecuária orgânicas, pagaram pela análise, que custou cerca de US$ 600 mil.
No entanto, a questão de saber se essas diferenças se traduzem em uma saúde melhor para quem consome carne e leite orgânicos ainda é algo discutível.
“Não temos essa resposta agora. Com base na composição, parece que são melhores para nós”, disse Richard P. Bazinet, professor de Ciências Nutricionais da Universidade de Toronto, que não estava envolvido com a pesquisa.
Os dois novos trabalhos científicos, publicados no periódico “The British Journal of Nutrition”, não são resultado de novas experiências; empregaram uma técnica estatística chamada meta-análise que tenta tirar conclusões mais concretas de muitos estudos díspares.
E certamente vão agitar o debate dos alimentos orgânicos; eles são ou não mais saudáveis? Alguns cientistas afirmam que orgânicos e convencionais são nutricionalmente indistinguíveis, e outros encontram benefícios significativos nos primeiros.
Os níveis mais elevados de ômega 3, um tipo de gordura poliinsaturada benéfica para a redução do risco de doenças cardíacas, não vêm de atributos normalmente associados aos alimentos orgânicos – animais que não recebem antibióticos, hormônios ou alimentação geneticamente modificada –, mas sim da exigência que animais criados organicamente passem tempo ao ar livre.
O leite e a carne orgânicos provêm de gado criado no pasto, enquanto que a maioria dos convencionais vem do animal alimentado por grãos. “Não há nada mágico. Tudo está relacionado à alimentação dos animais”, diz Charles M. Benbrook, consultor da indústria orgânica e um dos autores dos estudos.
Muitas dessas alterações são observadas em animais criados convencionalmente, mas que também pastavam na maior parte de sua dieta, disseram os cientistas. “Essa história é bem simples”, disse Benbrook.
A revisão das comparações entre o leite orgânico e o convencional analisou todos os 196 artigos encontrados pelos cientistas. Os estudos sobre a carne são mais escassos, por isso não foi possível examinar apenas um tipo de carne, como a de vaca ou de porco. Em vez disso, fizeram uma análise de 67 trabalhos sobre todas elas. “Só quando juntamos tudo é que pudemos fazer uma meta-análise”, disse Leifert.
Há dois anos, Leifert liderou uma revisão semelhante sobre frutas e legumes que descobriu que os produtos orgânicos tinham níveis mais elevados de alguns antioxidantes e menos resíduo de pesticidas que as culturas convencionais.
Os benefícios do ômega 3
Especialistas em nutrição concordam amplamente que o ômega 3 dos alimentos oferece inúmeros benefícios à saúde. Quando o Departamento de Agricultura dos EUA revisou suas orientações dietéticas em 2010, incentivou as pessoas a comerem mais frutos do mar, ricos no ácido graxo.
Ele existe em maior quantidade no capim do que nos grãos e é por isso que a produção orgânica de carne e leite também contem níveis mais elevados. “Assim, quando alteramos alguns aspectos fundamentais da ingestão de nutrientes desses animais, modificamos a composição de nutrientes de seus produtos derivados”, Benbrook disse.
A nova análise constatou que os níveis de outra gordura poliinsaturada, o ômega 6, eram ligeiramente menores na carne e no leite orgânicos. Tanto ela como o ômega 3 são essenciais para o funcionamento do corpo humano, que não produz nenhum dos dois.
Séculos atrás, as pessoas comiam quantidades aproximadamente iguais dos dois ácidos graxos; hoje, a maioria dos americanos consome muito mais ômega 6, que é prevalente em certos óleos vegetais e, portanto, nas frituras, do que o ômega 3, e alguns argumentam que esse desequilíbrio não é saudável.
Trocar ou não trocar?
Por e-mail, o Dr. Walter C. Willett, presidente do Departamento de Nutrição da Escola T.H. Chan de Saúde Pública de Harvard, disse que as diferenças entre a carne orgânica e convencional eram triviais e a quantidade de gordura saturada em ambos era alta.
“A ingestão de quantidades maiores e mais benéficas de ácidos graxos ocorre com a substituição de carne vermelha por aves e peixes”, disse Willett.
O problema da recomendação de se comer mais peixe é que, se todos a seguissem, eles sumiriam de rios, mares e lagos. Bazinet, da Universidade de Toronto, disse que incentivar as pessoas a adotarem leite e carnes orgânicas talvez fosse “uma forma de chegar aos níveis recomendados através dos alimentos que já são consumidos”.
E prosseguiu: “Os estudos sugeriram que adicionar 200 miligramas por dia de ômega 3 a uma dieta média pode produzir benefícios à saúde. A adoção da carne orgânica acrescentaria cerca de 50 miligramas, ou seja, comer uma porção de carne orgânica por dia não resolve o problema.”
“Já se combinarmos isso com alguns copos de leite orgânico, aí sim, pode haver diferença. Essa, pelo menos, é a hipótese.”
Mais experimentos
Agora, os cientistas estão tentando examinar a questão de saúde mais diretamente.
Leifert citou vários estudos que indicam que bebês de mães que comem alimentos orgânicos são menos propensos a desenvolver algumas doenças. Ele também está fazendo experiências para descobrir se ratos alimentados com alimentos orgânicos são mais saudáveis e segundo consta, até agora, parece que o resíduo de pesticidas das colheitas tem efeitos mensuráveis.
“Ainda não sabemos se pode matar, mas sabemos que tem um efeito sobre o equilíbrio hormonal. É algo que faz pensar um pouco.”