PM2.5, CO, COV e NOx: o que há na fumaça tóxica das queimadas e por que ela é nociva para nosso organismo

Em geral, mistura tóxica inclui material particulado (PM2.5), monóxido de carbono (CO), compostos orgânicos voláteis (COVs), óxidos de nitrogênio (NOx) e ozônio, além de metais pesados; entenda cada material.

Por Roberto Peixoto, g1

A fumaça das queimadas que tem encoberto cidades do Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país causa preocupação não só entre ambientalistas, mas também entre médicos e especialistas em saúde.

Isso porque ela é composta por gases tóxicos, como monóxido de carbono (CO) e material particulado fino (PM2.5), ou seja, partículas minúsculas que são suspensas no ar.

Todos esses componentes são altamente prejudiciais à nossa saúde, e podem agravar doenças respiratórias, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), e aumentar o risco de doenças cardiovasculares.

“A exposição prolongada a esses compostos tóxicos pode gerar uma crise de saúde pública”, diz Margareth Dalcolmo, médica pneumologista e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

“Estamos vendo um aumento das hospitalizações por problemas respiratórios e cardiovasculares, e os efeitos a médio e longo prazo ainda não podem ser mensurados. Isso terá um impacto enorme sobre a economia da saúde.”

Seguindo a mesma linha do alerta da especialista, um relatório inédito da Organização Meteorológica Mundial (OMM) sobre qualidade do ar, publicado nesta quinta-feira (5), destacou como toda essa exposição vem cada vez mais intensificando os riscos à saúde humana.

Segundo o estudo, que traz dados até 2023 e não cita o Brasil, as concentrações de PM2.5 no último ano foram influenciadas justamente por eventos extremos, como incêndios florestais, o que agravou a poluição em várias regiões, incluindo a América do Norte e a Índia.

“Os primeiros oito meses de 2024 mostraram a continuidade dessas tendências, com ondas de calor intensas e secas persistentes aumentando o risco de incêndios florestais e poluição do ar”, ressalta Ko Barrett, secretário-geral adjunto da OMM.

Mas o que há de fato na fumaça dessas queimadas e por que ela é tão nociva para nosso organismo?

Em geral, essa mistura tóxica inclui os seguintes compostos:

  1. Material particulado (PM2.5)
  2. Monóxido de carbono (CO)
  3. Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)
  4. Óxidos de nitrogênio (NOx) e ozônio
  5. Metais pesados

Veja a seguir uma explicação sobre cada um desses materiais e como eles impactam nosso corpo.

 — Foto: Prefeitura de Jundiaí/Divulgação

Vinte e quatro dos vinte e seis estados e o Distrito Federal têm focos de incêndio

1. Material particulado (PM2.5)

O material particulado é formado por partículas muito pequenas presentes no ar poluído, como o causado pela fumaça das queimadas.

O 2.5 do nome faz referência ao diâmetro de até 2,5 micrômetros dessas partículas, algo muito menor que um fio de cabelo, por exemplo.

Por causa desse tamanho reduzido, elas são capazes de ser inaladas e penetrar profundamente nos pulmões.

O médico pneumologista e presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), Frederico Fernandes, explica que, quando ele é absorvido pelo corpo, causa uma inflamação sistêmica, o que pode levar a doenças cardiovasculares graves, como arritmias, infarto e derrames.

“A exposição prolongada ao PM2.5 também pode agravar doenças respiratórias crônicas, como asma e bronquite, e está associada a um maior risco de câncer e outras condições crônicas, como diabetes”, diz.

Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu que a concentração anual média de PM2.5 não deve ultrapassar 5 µg/m³ para minimizar riscos à saúde.

Na prática, isso representa um nível de poluição do ar que é considerado relativamente baixo, muito diferente do visto recentemente em algumas cidades do país.

2. Monóxido de Carbono (CO)

O monóxido de carbono é um gás liberado principalmente pela queima incompleta de materiais como madeira, carvão e combustíveis.

Ele é extremamente tóxico porque se liga à hemoglobina nas células sanguíneas, impedindo que o oxigênio seja transportado para os tecidos do nosso corpo.

Ou seja, isso faz com que nossos órgãos fiquem privados de oxigênio, fundamental para a vida. Não tendo oxigênio, as células do nosso corpo não produzem energia e morrem.

“Nas grandes cidades, o monóxido de carbono é liberado principalmente pela circulação intensa de automóveis, que junto com outros poluentes agravam a qualidade do ar”, diz Dalcomo.

“Esses elementos desencadeiam uma cascata inflamatória diretamente nas paredes dos brônquios e na vasculatura humana e de outros animais. Os efeitos são graves e podem causar tanto intoxicações agudas quanto exacerbações de doenças crônicas”, acrescenta.

A longo prazo, os impactos ainda são difíceis de mensurar, mas sabe-se que a exposição contínua ao gás pode levar ao agravamento de várias condições de saúde.

Segundo o NHS, o serviço de saúde britânico, sintomas leves, como dores de cabeça e náusea são mais comuns.

Já exposições prolongadas podem gerar sintomas parecidos com os da gripe e, em casos mais graves, afetar a memória. Pessoas com problemas cardíacos, respiratórios, crianças e grávidas são as mais vulneráveis.

O pôr do sol em Porto Alegre impactado pela fumaça proveniente de queimadas — Foto: Reprodução/ RBS TV

O pôr do sol em Porto Alegre impactado pela fumaça proveniente de queimadas — Foto: Reprodução/ RBS TV

3. Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)

Outro componente da fumaça proveniente das queimadas é o chamado Composto Orgânico Volátil (COV).

Esse tipo de gás é emitido por substâncias sólidas e líquidas, como gasolina, pesticidas, fumaça de tabaco e muitos outros produtos. Mas, durante uma queimada, os COVs também são liberados no ar e podem aumentar o risco de problemas respiratórios e outros problemas de saúde.

Embora estejam presentes em ambientes externos, os seus níveis podem ser até 10 vezes maiores em ambientes fechados, como dentro de casas, devido à presença de produtos que os emitem.

Eles podem causar irritação nas vias respiratórias a curto prazo e, a longo prazo, aumentar o risco de câncer, além de prejudicar os pulmões, o sistema nervoso central, os rins e o fígado.

“O principal problema da exposição crônica aos Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) é o aumento do risco de câncer e o desenvolvimento de doenças pulmonares graves, como a pneumonia de hipersensibilidade. Nessa condição, o pulmão fica cheio de material tóxico, dificultando sua função”, ressalta Fernandes.

4. Óxidos de nitrogênio (NOx) e ozônio

Esses são conhecidos poluentes atmosféricos. Os óxidos de nitrogênio (NOx) vêm de várias fontes, como vulcões, raios, queimadas, bactérias, além de carros e combustíveis. Já o ozônio se forma quando certos gases, como os de veículos e indústrias, reagem com a luz do sol. Mas queimadas também o liberam.

Segundo o médico pneumologista Frederico Fernandes, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), os óxidos de nitrogênio podem provocar crises de asma, especialmente em crianças, com sintomas como chiado e falta de ar.

O ozônio, por sua vez, pode causar tosse e agravar doenças respiratórias, como bronquite. Com exposições mais prolongadas, aumenta o risco de infecções pulmonares, como pneumonia.

5. Metais pesados

Metais pesados são elementos químicos densos que podem ser tóxicos, mesmo em pequenas quantidades. A fumaça pode conter metais pesados como chumbo e mercúrio, que são prejudiciais quando inalados.

Eles podem causar problemas graves, pois sua toxicidade pode reduzir a energia e danificar órgãos importantes, como o cérebro, pulmões, rins, fígado e o sangue.

“A exposição crônica a esses metais pode ser cancerígena e também causa inflamação sistêmica. Além disso, aumenta o risco de doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas”, alerta Fernandes.

Recomendações do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde divulgou orientações para evitar a exposição à fumaça intensa causada por queimadas.

Na publicação, a pasta recomenda as seguintes orientações para a população:

  • 🫗 Aumentar a ingestão de água e líquidos ajuda a manter as membranas respiratórias úmidas e, assim, mais protegidas.
  • 💨 Reduzir ao máximo o tempo de exposição, recomendando-se que se permaneça dentro de casa, em local ventilado, com ar-condicionado ou purificadores de ar.
  • 🪟 As portas e as janelas devem permanecer fechadas durante os horários com elevadas concentrações de partículas, para reduzir a penetração da poluição externa.
  • 🏋️ Evitar atividades físicas em horários de elevadas concentrações de poluentes do ar, e entre 12 e 16 horas, quando as concentrações de ozônio são mais elevadas.
  • 😷 Uso de máscaras do tipo “cirúrgica”, pano, lenços ou bandanas pode reduzir a exposição às partículas grossas, especialmente para populações que residem próximas à fonte de emissão (focos de queimadas) e, portanto, melhoram o desconforto das vias aéreas superiores. Enquanto o uso de máscaras de modelos respiradores tipo N95, PFF2 ou P100 são adequadas para reduzir a inalação de partículas finas por toda a população.
  • 🧒 Crianças menores de 5 anos, idosos maiores de 60 anos e gestantes devem redobrar a atenção para as recomendações descritas acima para a população em geral. Além disso, devem estar atentos a sintomas respiratórios ou outras ocorrências de saúde e buscar atendimento médico o mais rapidamente possível, caso necessitem.

“Para se proteger da fumaça de queimadas e incêndios, deve-se evitar a exposição ao ambiente externo, incluindo atividade física. Recomenda-se utilizar máscara padrão N95, sobretudo nos locais mais próximos à fumaça”, pontua Pedro Genta, pneumologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Fora isso, pessoas com problemas cardíacos, respiratórios, imunológicos, entre outros, também devem, ainda segundo o Ministério da Saúde:  

  • 🏥 Buscar atendimento médico para atualizar seu plano de tratamento.
  • 💊 Manter medicamentos e itens prescritos pelo profissional médico disponíveis para o caso de crises agudas.
  • 🚑 Buscar atendimento médico na ocorrência de sintomas de crises.
  • ⚠️ Avaliar a necessidade e segurança de sair temporariamente da área impactada pela sazonalidade das queimadas.