Quase um bilhão de pessoas no mundo vive com um transtorno mental, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). Apesar de se falar cada vez mais sobre saúde mental, principalmente desde a pandemia, ainda existem muitos preconceitos em torno do tratamento psiquiátrico, o que muitas vezes impede que pacientes tenham uma vida mais saudável.
Segundo o psiquiatra Estevam Vaz, membro titular da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Associação Médica Brasileira, alguns mitos e preconceitos colaboram para essa visão distorcida sobre o tratamento psiquiátrico. “Apesar de falarmos mais e abertamente sobre saúde mental, ainda há pessoas que relutam contra um tratamento psiquiátrico. Claro, precisamos debater a questão da medicalização desnecessária, mas, por outro lado, há pacientes que precisam de acompanhamento, mas deixam de fazer justamente devido ao preconceito”, relata ele.
O especialista elenca os quatro principais mitos sobre o tratamento psiquiátrico.
1 – Medicamentos psiquiátricos mudam a personalidade da pessoa?
Não. Vaz explica que os medicamentos psiquiátricos são prescritos para equilibrar o funcionamento mental. “Quando usados corretamente, esses medicamentos ajudam a melhorar os sintomas sem alterar a personalidade essencial da pessoa. O objetivo é ajudar a pessoa a se sentir mais como ela mesma. Medicamentos não têm esse poder de mudar personalidades”.
2 – Os tratamentos psiquiátricos são apenas para pessoas com doenças mentais graves?
De acordo com o médico especialista, os tratamentos psiquiátricos podem beneficiar qualquer pessoa que esteja enfrentando dificuldades mentais significativas que precisam ser avaliados por um profissional. Casos como ansiedade, depressão, estresse, transtornos de ajustamento e muitos outros problemas são tratados pela psiquiatria. “Avaliamos sempre que o grau de disfuncionalidade que a pessoa vive diante de um quadro para aí então iniciar um tratamento”, esclarece Vaz.
3 – Ao tomar medicamentos psiquiátricos, você nunca poderá parar?
Vaz explica que os tratamentos contínuos são aqueles em casos mais graves ou crônicos. “O tratamento psiquiátrico busca devolver ao paciente seu equilíbrio mental. Então, o tratamento geralmente tem começo, meio e fim. Tudo deve ser sempre devidamente acompanhado por um psiquiatra. É mito achar que iniciada a mediação jamais o paciente deixará de tomar”, pontua o médico. A decisão de continuar ou interromper o uso de medicamentos deve sempre ser feita em conjunto com um profissional de saúde.
4 – Só o medicamento trata?
Outro mito em torno do tratamento psiquiátrico, segundo Vaz. “Tanto a terapia quanto os medicamentos podem ser eficazes no tratamento de transtornos mentais. No geral, uma combinação de ambos é a melhor abordagem”.
Desmistificar os tratamentos psiquiátricos é crucial para promover a compreensão e reduzir o estigma associado aos transtornos mentais. A informação correta pode ajudar muitas pessoas a buscar o tratamento de que necessitam para terem uma vida mais saudável. “Assim como tratamos de outros órgãos do corpo, como quem tem diabetes cuida do pâncreas, temos também o tratamento para os transtornos mentais. Mesmo que o paciente tenha receio, indico procurar um médico para tirar as dúvidas”, finaliza o psiquiatra.