Ministro da Fazenda comentou os resultados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (1º). A atividade econômica teve alta de 2,9% em 2023.
Por Raphael Martins, g1
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou nesta sexta-feira (1º) os resultados do Produto Interno Bruto (PIB), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A atividade econômica teve alta de 2,9% em 2023.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. O indicador serve para medir a evolução da economia. Haddad comentou que o resultado fechado do ano surpreendeu até mesmo ao governo, que esperava algo em torno de 2% no início do mandato.
“Muita gente imaginava que, em virtude da política monetária muito restritiva, o PIB do 2º semestre do ano passado ia cair. Muita aposta de que haveria uma desaceleração a ponto de nós termos uma pequena retração na economia”, disse.
“A economia desacelerou. Taxa de juro, vocês estão acompanhando, continua das mais altas do mundo. O PIB desacelerou, mas não o suficiente para nos tirar do entorno ali dos 3%”, afirmou Haddad, reforçando que, dada a permanência das boas condições econômicas, sua equipe projeta um crescimento de 2,2% para 2024.
O ministro reforçou que o resultado traz confiança dos agentes para a economia brasileira, mas reconhece que há um processo de desaceleração em curso e o primeiro trimestre de 2024 ainda deve sofrer com os impactos.
Evolução do PIB ano a ano — Foto: Arte g1
Haddad lembra que o consumo das famílias e o ano excepcional da agropecuária tiveram papel fundamental para o resultado do ano passado. O ministro afirma que, agora, o país precisa de investimentos para ter um crescimento sustentável.
“Uma coisa boa que aconteceu no quarto trimestre é que teve uma ligeira melhora na formação bruta de capital e isso é bastante importante porque nós precisamos de investimento para fazer a economia rodar”, disse o ministro.
De fato, o recuo mais relevante do ano foi dos Investimentos (-3%). O segmento de máquinas e equipamentos teve queda de 9,4%. Mas, no último trimestre, houve uma reversão dos três períodos de queda que se acumulavam no ano. Houve alta de 0,9%, vinda de um recuo de de 2,2% entre julho e setembro.
Com taxas de juros ainda em patamares bastante altos, os empresários seguram investimentos e deixam de renovar infraestrutura, promover ampliações e contratações. São fatores que prejudicam o potencial de crescimento para a economia nos próximos anos.
“Nós queremos criar um ambiente de negócio necessário para que o empresário invista fortemente, porque esse investimento é que realmente melhora as condições econômicas. Com investimento, você cresce sem risco inflacionário”, disse o ministro.
Volta da agenda de reformas
Como motivador do apetite para investimentos, o ministro Fernando Haddad reforça que o país passa por um ciclo de queda na taxa de juros com indicadores sustentáveis que será possível ter melhores condições para investidores nos próximos meses. Ele cita ainda que há toda uma agenda de reformas que deve retornar ao centro dos debates, que melhorarão o ambiente de negócios.
Sobre a Selic, Haddad diz que a política monetária permanece apertada, mas as perspectivas dão conta de que o ritmo de queda da taxa Selic poderá ser mantido pelo Banco Central (BC).
“Já são 2,5 pontos percentuais abaixo do que no começo do ano passado, então nós temos espaço ainda, um bom espaço, para política monetária em virtude dos indicadores. Não estou falando aqui de desejo pessoal”, afirmou.
“Olhando para inflação e olhando para o mercado de trabalho, olhando para todas as variáveis, nós temos um bom espaço para crescer esse ano”, disse Haddad.
“Organizando as contas públicas por um lado e a política monetária atuando na mesma direção, nós temos condição de manter a projeção de 2,2% de crescimento. Já tem gente falando em mais, mas nós estamos sendo comedidos aqui nas nossas contas.”
Por fim, Haddad reforçou que a equipe econômica não pode se descuidar, e que nesta semana voltará a atuar nas negociações com o Congresso Nacional para retomar sua agenda de reformas microecônomicas e de medidas fiscas para equilíbrio das contas públicas.
“Desde o começo, o meu mantra é o mesmo: a política fiscal e monetária tem que andar juntas, na mesma direção. Se isso continuar acontecendo, eu acredito piamente de que nós, quando nós voltarmos a crescer, vai ser um crescimento mais estrutural. E não conjuntural.”
“Vamos conjugar os esforços domésticos que foram feitos em um ano e meio para arrumar a casa aqui, que estava totalmente desorganizada, e os bons ventos que devem começar a soprar da economia internacional — sobretudo no que diz respeito à política monetária, que deve começar a se afrouxar em algum momento ali pelo meio do ano.”
Variação trimestral do PIB brasileiro — Foto: Arte g1
Projeções da equipe econômica
A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda estimou nesta sexta-feira (1º) que o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano deverá registrar um crescimento de 2,2%. Se confirmado, haverá nova desaceleração do ritmo de expansão da economia.
Em 2023, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB brasileiro avançou 2,9% na comparação com o ano anterior. O resultado final foi muito próximo ao de 2022, quando a atividade econômica brasileira teve alta de 3%.
Para o mercado financeiro, segundo pesquisa conduzida pelo Banco Central na última semana, o ritmo de atividade do país crescerá menos do que o estimado pelo Ministério da Fazenda, com 1,75% de alta.
De acordo com a SPE, do Ministério da Fazenda, a projeção de crescimento de 2,2% para a economia neste ano se baseia nos seguintes pressupostos:
- menor contribuição do setor agropecuário comparativamente a 2023;
- recuperação da atividade na Indústria – guiada pela retomada dos investimentos produtivos e continuidade da expansão da produção extrativa mineral;
- estabilidade no ritmo de expansão dos Serviços, com a menor contribuição de benefícios fiscais sendo compensada pelo avanço do crédito e resiliência do mercado de trabalho.
“A perspectiva é de crescimento mais homogêneo entre atividades cíclicas – impulsionadas pelo patamar menos contracionista dos juros [juros menores do que em 2023] – e não cíclicas”, acrescentou o Ministério da Fazenda.
Pelo lado da demanda, ainda segundo a Secretaria de Política Econômica, a perspectiva deve se refletir em “aumento da contribuição da absorção doméstica para o crescimento, com destaque para a retomada dos investimentos”.