Estudo divulgado no Fórum Econômico Mundial aponta novos paradigmas de desenvolvimento, dividindo 107 países por notas e arquétipos. No Brasil, entre os maiores desafios estão a desigualdade social e desenvolvimento de patentes verdes
Existe um amplo potencial para crescimento econômico e melhorias do bem-estar social no mundo, mas é preciso romper com as bases de Produto Interno Bruto (PIB) atuais. É o que aponta um estudo divulgado nesta quarta-feira, 17, no Fórum Econômico Mundial, que acontece esta semana em Davos, na Suíça. O trabalho é fruto de uma colaboração entre a Fundação Dom Cabral e o Fórum. A publicação considera quatro dimensões para sugerir um novo paradigma de crescimento futuro: inovação, inclusão, sustentabilidade e resiliência.
“O mundo não está crescendo com as bases do PIB atual. Temos como desafios para o futuro desenvolver qual modelo será ideal para alcançarmos o crescimento devido. Com base no estudo, acreditamos que a inovação é o motor da inclusão e resiliência, que são fundamentais para a sustentabilidade”, diz Hugo Tadeu, professor e diretor do núcleo de inovação e empreendedorismo da Fundação Dom Cabral.
Na frente de inovação, a pontuação geral alcançada pelos países que participaram das análises foi de 45,2, numa escala até 100. O item foi o de menor pontuação entre os pilares analisados, ressaltando a importância de maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento em escala global e da implementação eficaz de novas tecnologias digitais.
Nesta frente, a Suíça mantém a posição de destaque com a pontuação de 80,4, visto que o país investe mais de 3% do seu PIB em Pesquisa e Desenvolvimento. Em seguida, Singapura se destaca com uma pontuação de 76,43, sendo considerada o país mais inovador da Ásia.
Inovação | |||||
Destaques | Piores pontuações | Melhores pontuações | |||
Mundo | 45,2 | Iêmen | 17,98 | Suíça | 80,37 |
Brasil | 41,81 | Angola | 17,97 | Singapura | 76,43 |
Chile | 46,23 | Congo | 21,88 | Suécia | 74,92 |
Índia | 40,23 | Serra Leoa | 22,27 | Dinamarca | 73,40 |
México | 37,88 | Chade | 22,27 | Estados Unidos | 74,09 |
Honduras | 28,64 | Holanda | 73,30 | ||
Lesoto | 29,65 | Alemanha | 69,41 | ||
Zimbábue | 29,72 | Coreia do Sul | 68,81 | ||
Nepal | 31,46 | Reino Unido | 68,45 | ||
El Salvador | 31,55 | Finlândia | 68,03 |
Em comparação aos outros fatores, inclusão foi o item de maior pontuação neste relatório, com 55,9, indicando um esforço mundial para promover oportunidades igualitárias e na promoção de ações em busca da diversidade.
A Suíça também obteve a melhor pontuação em Inclusão (77,89), visto que, na questão de gênero, pode-se observar uma participação notável das mulheres na política, com 42% dos representantes no parlamento e 43% nos ministérios.
Já a Finlândia conseguiu o segundo melhor resultado, com uma nota de 77,89, o que pode ser explicada pela ação do país na promoção de emprego, educação e inclusão para minorias étnicas, como os ciganos, grupo marginalizado na Europa.
A média global em resiliência foi de 52,8, o que pode ser explicado pela pandemia do COVID-19, quando se torna necessária uma resposta coordenada entre os países para os impactos econômicos e sociais.
Neste item, Luxemburgo (72,57), Nova Zelândia (72,43) e Finlândia (71,25) alcançaram pontuações altas, visto que são economias diversificadas e estáveis, conseguindo se adaptar de forma ágil e eficiente a mudanças, de acordo com o relatório.
Por último, sustentabilidade apresentou pontuação de 46,8, demostrando a implementação em uma fase intermediária de práticas sustentáveis e o compromisso global com a urgência dos problemas ambientais.
Países como Chade (63,78), Jordânia (61,8) e Zimbábue (59,98) se destacam com as melhores pontuações em Sustentabilidade, mesmo fazendo parte do grupo de renda média baixa.
A República do Chade sofre seriamente com os impactos das mudanças climáticas, devido à desertificação do Lago Chade, porém o país vem recebendo apoio de instituições internacionais, como o Fundo Verde para o Clima e Banco Mundial, em projetos de conservação ambiental e desenvolvimento sustentável.
Por outro lado, a Jordânia investiu em fontes de energia renováveis, visto que 93% da sua energia tinha que ser importada, o que correspondia a 8% do PIB, além do aumento da eficiência energética e redução do consumo.
O Zimbábue se aproveitou da biodiversidade para desenvolver a economia de forma sustentável, por meio do turismo de natureza e da comercialização de produtos florestais, correspondendo a 6,3% do PIB em 2019.
“Existe uma clareza de que quem inova muito são os países ricos, com o PIB per capta alto, e de que país inovador é o que investe em pesquisa e desenvolvimento, discutindo a qualidade da inovação. No Brasil, por exemplo, há um entendimento de que parceria com startup é super inovador, mas nem sempre é assim. Os países com o crescimento estão investindo, por exemplo, em pesquisa e patente, algo que aqui leva em torno de sete anos para se conseguir”, diz Hugo Tadeu.
Além de apontar as notas dos países, mesmo que não exista um ranking, a pesquisa os divide por arquétipos. O Brasil aparece em dois: os que reúne os países com crescimento moderado, mas equilibrado, e com desempenho acima da média em sustentabilidade; e os de países com crescimento impulsionado pela eficiência, desenvolvendo inovação, inclusão e resiliência em uma base simples com uma visão ambiental reduzida.
De acordo com a publicação, o Brasil, com PIB per capita PPP (paridade poder de compra) de USD$16.402 (cerca de R$81.000) é considerado como um país do grupo de renda média alta, já que registrou, durante o período de 2018 a 2023, um crescimento de 1,22% no PIB. Em termos de qualidade desse crescimento, o país obteve pontuações de 41,8 em Inovação, 55,3 em Inclusão, 55 em Sustentabilidade e 52 em Resiliência.
Esses resultados não destoam muito da média mundial, porém devem ser aprimorados, por meio de políticas públicas e estratégias organizacionais que aderecem os principais desafios atuais, para potencializar o crescimento sustentável diante de novas tendências emergentes no âmbito tecnológico, social e político.
O Brasil apresenta alguns destaques positivos que podem potencializar um crescimento promissor frente a macrotendências. Por exemplo, a disponibilidade de recursos hídricos e a maior concentração de oferta de alimentos, devido à forte produção agrícola do país, ampliam a resiliência a eventos que impactam o suprimento desses recursos básicos.
Contudo, há pontuações baixas para distribuição de renda (18,3), acesso a contas bancárias (11,8), patentes (2,4) e patentes verdes (1,6). “Esses indicadores estão bastante abaixo da média global pela falta de investimentos e mudanças significativas no país”, diz Hugo Tadeu.