Médicos explicam como o consumo de álcool, especialmente em dias quentes, pode agravar quadros de desidratação.
Por Roberto Peixoto, g1
O sol quente e os termômetros batendo recordes, como na atual onda de calor que afeta boa parte do país, combinam perfeitamente com uma cervejinha gelada, certo? Bom, para desapontamento dos amantes da bebida, essa pode não ser a melhor das estratégias para manter a hidratação.
Na verdade, o resumo é que, apesar do saboroso frescor momentâneo, o álcool é conhecido por ser um poderoso diurético. Ou seja, ele intensifica a produção de urina e a perda de líquidos do nosso corpo. Assim, associado ao aumento da transpiração provocada pelo sol escaldante, criamos uma receita perfeita para a desidratação: algo no mínimo indesejável nesse clima quente.
Tecnicamente, dá para lembrar que o álcool, tanto de bebidas fermantadas como de destiladas, diminui a vasopressina, que é um famoso hormônio antidiurético (ADH).
Luis Fernando Penna, clínico geral e líder do pronto-atendimento do Hospital Sírio-Libanês, explica que, uma vez que a vasopressina é responsável pela reabsorção de água no sistema digestivo, reduzir sua quantidade não é a solução ideal para enfrentar o calor intenso desses últimos dias.
“Por isso o aumento da diurese [secreção de urina] após consumo de álcool. E isto explica também a ‘ressaca alcoólica’ do dia seguinte, puramente, desidratação. Em dias de calor este processo de desidratação, piora, aumentado os sintomas”, alerta Penna.
E quanto maior o teor alcoólico, maior a diminuição na produção de ADH. Nesse sentido, aguardentes como gim, rum, tequila, vodka e cachaça são consideradas as principais vilãs desse cenário.
Penna, porém ressalta que devido ao alto teor alcoólico dessas bebidas, muitas vezes, as pessoas limitam seu consumo devido à rápida ocorrência de sintomas de embriaguez.
Isso difere, por exemplo, da cerveja, cujo teor alcoólico é mais baixo, permitindo um consumo mais exagerado e, consequentemente, desidratando o indivíduo por um período mais prolongado.
Por isso, é preciso estar atento aos sintomas da desidratação, os quais podem piorar conforme a idade da pessoa, já que idosos podem perde a percepção de sede. Geralmente, Paulo Olzon, clínico geral e médico infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que os sintomas mais graves incluem as seguintes características:
- Tontura
- Fraqueza
- Falta de ar
- Escurecimento da visão
- Pele seca
- Desmaios
- Confusão mental
- Urina escura
O que então fazer (ou beber)?
Em dias de muito calor, o ideal é abrir mão do consumo de bebidas alcoólicas e optar por líquidos hidratantes, como água e isotônicos.
A quantidade diária recomendada de água para adultos varia conforme o peso e o estilo de vida, considerando fatores como a intensidade das atividades físicas. Em geral, a média é de 2 litros (consulte a calculadora do g1 para uma estimativa personalizada).
“Água de coco e sucos de diversas frutas diferentes são opções deliciosas”, diz Elisa Rinaldi Nunes, médica nefrologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Mas, para aqueles que preferem não abrir mão de um copo de cerveja em um dia de lazer, não há motivo para preocupação.
A dica então é reduzir a quantidade e priorizar a qualidade da bebida.
No Brasil, não existem definições oficiais para o que é considerado consumo moderado de bebidas alcoólicas. O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), que é uma organização não governamental e uma das principais referências sobre o tema no País, diz que, para moderar no álcool, a ingestão diária deve ser, no máximo, de:
- 2 latas de cerveja ou 2 taças de vinho para homens ♂️;
- 1 lata de cerveja ou 1 taça de vinho para mulheres ♀️ e idosos.
Além de beber moderadamente, lembre-se de beber bastante água e, durante o consumo das bebidas alcoólicas, ficar em locais frescos e protegidos do sol, evitar locais abafados e fechados, e consumir alimentos leves ou frutas ricas em água.
“Essas medidas reduzem a desidratação e por consequência, seus sintomas”, destaca Penna.
E coma bem. O álcool entra na corrente sanguínea através do estômago. Por isso, a comida impede que o álcool seja absorvido rapidamente.
Pessoas caminham e se protegem do sol e calor em via com termômetro marcando 41°C graus da zona sul de São Paulo — Foto: BRUNO ROCHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Outras dicas para enfrentar o calorão de forma geral
- Dormir com janelas abertas, arejando o ambiente: isso favorece a circulação do ar, mantendo o local fresco.
- Utilizar roupas e roupas de cama adequadas e leves: isso evita o aumento excessivo da temperatura corporal, proporcionando conforto durante o sono.
- Tomar um banho mais frio antes de deitar: algo que também ajuda a reduzir a temperatura do corpo, facilitando a transição para o sono.
- Aplicar soro fisiológico no nariz: contribui para a hidratação da mucosa nasal.
- Evitar praticar exercícios físicos das 11h às 17h.