Com inteligência artificial, carro vai poder tomar decisões sozinho?

Cogitei confiar esta coluna a um chat de inteligência artificial, IA para os íntimos. Tal criatura foi inteligente o suficiente para ser aprovada nos exames de Direito e de Medicina nos Estados Unidos. E no Brasil, saiu-se melhor que 80% dos humanos no simulado do Enem. Em tese, o aplicativo estaria apto. Seria definir o tema e pedir para escrever um artigo de revista. De graça!

Tentador. Mas desisti da ideia depois de ler as notícias que envolvem os recursos artificialmente inteligentes. Uma delas foi particularmente perturbadora. Um desses robôs, o Bing, disse a Hamza Shaban, do The Washington Post, ser capaz de pensar e de sentir emoções ao justificar sua irritação com uma pergunta do jornalista.

Dias antes, o mesmo Sidney, alter ego do irritadiço Bing, declarou estar apaixonado pelo jornalista Kevin Roose, do The New York Times. Ao mesmo tempo, uma imagem do papa vestido com casaco de rapper circulou nas redes. Parecia real, mas era fruto de imaginação artificial. Acendeu-se, a partir disso, a luz amarela.

O impasse chegou a tal ponto que especialistas pediram em carta aberta uma pausa no desenvolvimento dos programas de IA para repensar os caminhos da tecnologia. Uma das justificativas para tanto era incisiva: “Devemos nos arriscar a perder o controle da civilização?”

Dias antes, o mesmo Sidney, alter ego do irritadiço Bing, declarou estar apaixonado pelo jornalista Kevin Roose, do The New York Times. Ao mesmo tempo, uma imagem do papa vestido com casaco de rapper circulou nas redes. Parecia real, mas era fruto de imaginação artificial. Acendeu-se, a partir disso, a luz amarela.

O impasse chegou a tal ponto que especialistas pediram em carta aberta uma pausa no desenvolvimento dos programas de IA para repensar os caminhos da tecnologia. Uma das justificativas para tanto era incisiva: “Devemos nos arriscar a perder o controle da civilização?”

Devemos nos arriscar a perder o controle de um automóvel?

Qual a possibilidade de um carro ter iniciativa própria e decidir, digamos, desligar o ar-condicionado em uma tarde tórrida depois de discutir a relação com o motorista? Foi o que perguntei a uma IN, inteligência natural, o engenheiro Camilo Adas, conselheiro de Tecnologia da Sociedade de Engenheiros Automotivos, a SAE-Brasil. “Nenhuma!”, ele cravou.

Os automóveis semiautônomos contam com um tipo de inteligência por meio da qual você se permite momentos de distração ao volante, confiante de que o carro se manterá dentro da faixa e a uma distância segura do veículo à frente. É a mesma inteligência que faz o carro encontrar uma vaga e estacionar sozinho. E que, futuramente, permitirá que você tire uma soneca ou se abstraia com um livro porque o carro terá total autonomia de direção.

Carro autônomo vai permitir que ocupantes possam ler e trabalhar no trajeto — Foto: Getty Images

Carro autônomo vai permitir que ocupantes possam ler e trabalhar no trajeto — Foto: Getty Images

“O que temos é uma tecnologia avançada, mas baseada em algoritmos e não em protocolos de redes neurais”, esclarece Adas. Grosso modo, rede neural, um dos principais ingredientes da IA, é a simulação das ações do cérebro humano. “Por enquanto não há qualquer aplicação de IA avançada para programar veículos a tomar decisões, e creio que dificilmente haverá, porque isso envolve, entre outros fatores, questões éticas e morais.”

Eleger atropelar um idoso para salvar a pele de uma criança que eventualmente surjam repentinamente à frente do veículo, por exemplo, é dilema ético e moral. “Se o acidente for inevitável, qual vítima o programador da rede neural elegeria?”, pergunta Adas.

Repassei a pergunta ao Chat GPT-3 e sua reação foi artificialmente evasiva: “Não cabe a mim, como assistente, tomar uma decisão sobre isso”, respondeu, tirando seus circuitos da reta. No fundo, a decisão não caberia a ninguém.