Queda das commodities afeta ânimo dos agricultores na Tecnoshow

A Tecnoshow Comigo é uma das maiores feiras agrícolas do Brasil e está acontecendo durante esta semana em Rio Verde, Goiás. Devem passar pelo local mais de 100 mil pessoas até sexta-feira. De todas as feiras por onde andei neste ano, percebi lá o início de uma mudança de perspectiva entre agricultores. Entre os motivos estão: a recente queda nos preços das commodities agrícolas (soja recuou cerca de 9% só em março), escassez de crédito rural oficial, alto patamar dos juros e plantio do milho segunda safra fora do período ideal. O presidente da Tecnoshow, Antonio Chavaglia, afirmou que o momento pede moderação e, por isso, prefere não projetar os resultados da edição de 2023. “O custo é alto e os preços despencaram, então isso preocupa bastante. A gente não fala ainda em números [para a feira neste momento]”, explica.

O ânimo entre agricultores mudou mais recentemente, me contou Rafael Grimm Marques, produtor rural em Mato Grosso do Sul. “Nosso sentimento nesse momento é de apreensão por conta dos preços das commodities e em relação às taxas de juros que estão elevadas.” Em Goiás, os agricultores do Estado ainda se ressentem da decisão do governador, Ronaldo Caiado, de criar um fundo de infraestrutura, ou seja, uma nova taxa sobre o setor agropecuário. Há preocupação entre produtores rurais de que o custo aumente, já que a reforma tributária em discussão em Brasília também pode onerar o setor. “Nós tivemos uma taxação forte no Estado, que está influenciando na nossa rentabilidade. A gente não sabe o que vem de taxação do governo federal. Tem também a carga tributária que está sendo estudada e, se ela vier do jeito que está sendo proposta, também afeta muito nosso setor. São coisas que o agricultor coloca na balança. Acho que o termômetro do investimento está nesse ponto de equilíbrio”, conta o produtor rural Felipe Schwening.

No Centro-Oeste do Brasil, o foco da atenção está também no desenvolvimento do milho segunda safra. O último dado da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revelou que 100% do cereal já havia sido semeado no Estado, mas parte desse plantio aconteceu fora da janela ideal. Com isso, a plantação corre maior risco de sofrer com problemas climáticos. “O plantio do milho atrasou uns 15 dias e esse milho vai depender das chuvas de abril e maio para definir qual vai ser o potencial real da safrinha”, conta o produtor rural Ivan Brucceli.

Ao conversar com agricultores, presidentes de cooperativas e representantes da indústria, notei, especialmente neste fim de março, que o estado de ânimo geral dos agricultores arrefeceu por conta da recente queda nos preços das commodities agrícolas, escassez de crédito rural oficial, juros altos, plantio do milho segunda safra fora do período ideal e incertezas na política econômica e agrícola. Ainda assim, há na mesa uma melhor relação de troca para a safra 2023/2024 do que nas últimas temporadas e há projeções como a do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que apontam crescimento de 12% para o PIB Agro em 2023. Ou seja, o recorte do momento revela uma moderação, mas, se a produção vier farta e a condição econômico-financeira melhorar, há possibilidade de a confiança no campo voltar reagir em breve.

Jovem Pan