O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou na quinta-feira o Complexo Naval de Itaguaí, na região metropolitana do Rio, onde estão sendo construídos os novos submarinos brasileiros que serão operados pela Marinha.
O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) foi criado em 2008, durante o segundo mandato de Lula, por meio de uma parceria com a França que envolve transferência de tecnologia.
Ele prevê a construção de quatro submarinos convencionais a propulsão diesel-elétrica, baseados no modelo francês Scorpène, e um a propulsão nuclear.
O primeiro submarino convencional do Prosub, batizado Riachuelo, foi entregue em setembro de 2022, com cinco anos de atraso. O segundo, Humaitá, está no mar realizando testes e deve ser entregue à Marinha no segundo semestre deste ano. Os outros dois devem ser entregues até 2025.
A entrega do submarino nuclear está atualmente prevista para 2029, mas não é improvável que se estenda para a próxima década. Se o prazo for cumprido, o Brasil terá sua embarcação do tipo após uma longa saga de 50 anos desde o início do projeto.
“Está atrasado, mas vai sair. E eu espero inaugurar um em 2023, outro em 2024, outro em 2025? E, se marcar bobeira, a gente inaugura outro em 2026?”, disse Lula, ao finalizar a entrevista coletiva no complexo naval.
O presidente defendeu os investimentos em Defesa como parte do desenvolvimento econômico, a exemplo do que ocorre em outros países.
“Quando enxerguei a necessidade de desenvolver uma indústria de Defesa no Brasil, é porque em todos os países do mundo a indústria de Defesa contribui com a economia como um todo, além de preparar, de forma mais sofisticada, com muito conhecimento científico e tecnológico, as nossas Forças Armadas, e o próprio país”, afirmou.
Uma indústria de Defesa forte, segundo Lula, deve contribuir para uma melhor articulação das Forças Armadas, que, “quanto mais preparada estiver, mais cuidará da soberania nacional, das fronteiras, do espaço aéreo, das florestas, das riquezas minerais, do solo, do subsolo, ou seja, é isso que o país precisa”, destacou.
Desejo antigo
A Marinha brasileira iniciou seu programa nuclear em 1979 com o objetivo de um dia construir um submarino movido por essa energia, cuja entrega chegou a ser prometida para o início da década de 1990.
O programa estabeleceu inicialmente dois propósitos: dominar o ciclo do combustível nuclear, com ultracentrífugas capazes de produzir o urânio enriquecido, e construir um reator nuclear e seus sistemas complementares.
A iniciativa não correu como planejado e sofreu diversos atrasos e interrupções devido a falta de recursos, trocas de governo e dificuldades para desenvolver a tecnologia.
Mas o ciclo de produção das varetas com pastilhas de urânio enriquecido foi dominado e contribuiu inclusive para a produção do combustível nuclear usado nas usinas atômicas de Angra dos Reis.
Mais de quatro décadas depois, o desenvolvimento do reator nuclear ainda não foi concluído.
Esse item crucial do submarino nuclear não contará com transferência de tecnologia da França — que contribuirá apenas para a parte não nuclear da embarcação, como o casco e a tecnologia para integrar o reator à propulsão.
A estatal Nuclep, criada para atender o Programa Nuclear Brasileiro e integrante do Prosub, começou a construir em 2021 um protótipo em tamanho real do submarino a propulsão nuclear.
Em junho de 2022, o Brasil fez um pedido à Agência Internacional de Energia Atômica para usar urânio enriquecido no reator do submarino, mas o tema ainda está em negociação para que técnicos da agência possam fazer inspeções aos locais destinados à produção do combustível nuclear e ao reator do submarino.
Valores envolvidos
O Prosub tem um orçamento atualizado de R$ 40 bilhões e é um dos maiores projetos de Defesa do Brasil.
Especialmente após a crise de 2012, o orçamento anual destinado ao Prosub sofreu cortes que foram citados por almirantes da Marinha como motivos para os seguidos atrasos no programa.
No ano passado, foram pagos R$ 1,4 bilhão ao Prosub. Para este ano, há gastos de R$ 1,2 bilhão planejados para a rubrica, segundo levantamento do jornal Valor Econômico.
Por que um submarino nuclear
A principal vantagem do submarino nuclear é que ele pode ficar muito mais tempo submerso do que os movidos a diesel, pois a geração de energia nuclear não depende de oxigênio, como a combustão do diesel. Além disso, se movimenta mais rápido e cobre uma área maior.
A Marinha defende a necessidade de um submarino nuclear para defender o território marítimo brasileiro, chamado no meio militar de Amazônia Azul, que tem cerca de 3,6 milhões de quilômetros quadrados.
Até o momento, apenas seis países possuem submarinos nucleares: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China e Índia.
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