O dólar à vista ensaiou uma nova arrancada na sessão desta quinta-feira, 19, em meio a ruídos políticos e aversão ao risco no exterior, mas perdeu força na reta final dos negócios e terminou o dia em leve alta (+0,16%), cotado a R$ 5,1707. Com valorização ontem e hoje, a moeda acumula avanço de 1,26% na semana, mas ainda apresenta perda de 2,07% em janeiro.
Nos piores momentos do pregão, pela manhã e no início da tarde, a divisa operou acima da linha de R$ 5,20 e atingiu máxima a R$ 5,2516 (+1,81%). Investidores reagiam à fala de Lula em evento com reitores de universidades federais no Palácio do Planalto, repetindo críticas à autonomia e à atuação do Banco Central que havia feito ontem à noite em entrevista a GloboNews. Jogava contra o real também a onda de fortalecimento da moeda americana em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities.
A mínima, a R$ 5,1642 (+0,03%), veio no fim da sessão e coincidiu com máximas do Ibovespa, quando investidores digeriam tuítes do ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, negando que haja planos de interferência no Banco Central. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para fevereiro trocou de sinal e passou a trabalhar em baixa, com giro robusto, acima de US$ 13 bilhões.
Houve também desaceleração da alta dos Treasuries e das perdas de divisas emergentes, com declarações da vice-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Lael Brainard, de que o efeito da política monetária sobre demanda e inflação ainda está por acontecer). .
“O mercado de câmbio está bem arisco e basicamente repercutiu a fala de Lula. Tivemos onda positiva com sinalização do Fernando Haddad ministro da Fazenda sobre reforma tributária e medidas fiscais. Mas as declarações do presidente acabaram jogando tudo por terra”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, lembrando que Lula, além de críticas ao BC, prometeu nesta semana correção da tabela do Imposto de Renda e deixou a porta aberta para aumento maior do salário mínimo.
Em suas falas, Lula criticou a autonomia do BC e o nível de meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetária Nacional (CMN). “Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando faz isso, é preciso arrochar mais a economia para atingir aquele 3,7%. Por que não faz 4,5%, como fizemos nos mandatos anteriores?, afirmou o presidente ontem à GloboNews. “Qual é a explicação de a gente ter um juros de 13,5% hoje? O Banco Central é independente, a gente poderia nem ter juros”, afirmou Lula hoje a reitores. A taxa Selic, diferentemente do que disse o presidente, está em 13,75% ao ano.
Em uma aparente operação de “contenção de danos”, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que não há intenção de modificar o status do BC nem interferir em suas ações. “O presidente não vai mudar de postura agora, ainda mais com uma lei que estabelece regras nesse sentido”, escreveu Padilha, acrescentando que não há disposição “por parte do governo de fazer qualquer mudança na relação com o Banco Central”.
Quando o mercado à vista já estava fechado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em palestra nos EUA, evitou aumentar a temperatura do debate e disse “achar” que comentários de Lula “foram tirados de contexto”. Campos Neto argumentou que a autonomia do BC em lei “reduz volatilidade” e reiterou que a instituição vai “agir de forma independente”.