No Twitter, a busca pelo termo OVNI (sigla para Objeto Voador Não Identificado, ou óvni) já resulta em um banquete de imagens do Rio Grande do Sul nos últimos dias.
(FOLHAPRESS) – Por cinco dias consecutivos o céu de Porto Alegre tem intrigado pilotos, especialistas e curiosos em geral. Desde o último dia 4, uma noite de sexta-feira, circulam relatos e filmagens de luzes sobre a cidade, inclusive de pilotos de diferentes aeronaves que presenciaram o fenômeno ao mesmo tempo.
No Twitter, a busca pelo termo OVNI (sigla para Objeto Voador Não Identificado, ou óvni) já resulta em um banquete de imagens do Rio Grande do Sul nos últimos dias.
As hipóteses apontadas por especialistas consultados pela reportagem passam longe de afirmar que extraterrestres estejam pairando sobre terras gaúchas. Para físicos e engenheiros, o diagnóstico mais provável é de muitas pessoas prestando atenção ao mesmo tempo em fenômenos celestes corriqueiros.
Até aqui o episódio mais controverso é o do dia 4, quando por volta das 23h30 o comandante Daniel Medina Guimarães aterrissava em Porto Alegre de um voo da Gol vindo de Brasília. Ao conversar com a torre, Guimarães soube que o piloto anterior, de um voo da TAM, havia comunicado o mesmo fenômeno.
Em entrevista ao site GZH, Guimarães relatou ter presenciado luzes intensas e com cores “em determinados momentos, um branco muito vívido, e em determinados momentos, umas luzes em uma cor misturada entre o vermelho e o verde”, aparecendo em intervalos de poucos minutos.
No primeiro momento o próprio comandante pensou se tratar de um satélite, mas os movimentos circulares seriam diferentes da trajetória desse tipo de equipamento. Por voar a 11 mil metros e perceber a luz um pouco acima, calculou que o facho estivesse a cerca de 13 ou 14 mil metros do solo.
A Fraport, concessionária responsável pelo Aeroporto Salgado Filho, e a Força Aérea Brasileira não relatam nada fora do usual no céu da cidade nem na data nem posteriormente.
Responsável por um observatório espacial em Taquara (RS), a 80 km de Porto Alegre, o engenheiro Carlos Fernando Jung tem registros de uma luz circulando no céu próximo àquele horário.
Ele não sabe dizer se o que os pilotos testemunharam é o mesmo fenômeno, mas está convencido de que o seu registro é o de um efeito causado por um canhão de luz apontado para o céu -produtoras de eventos chamam esses equipamentos luminosos de sky light, que emitem feixes para o alto de até 7 km. São uma espécie de “bat-sinal” em movimento.
Conforme Jung, a luz de um desses equipamentos pode “rebater” nas nuvens, subir e causar a ilusão de ótica de um ponto de luz se movimentando acima dos pilotos. A hipótese explicaria os movimentos circulares e a variação de cores, que ocorre em contato com diferentes pontos da atmosfera.
A fonte do canhão poderia ser algum evento ocorrido à margem do lago Guaíba. No dia seguinte, por exemplo, o show de inauguração de um empreendimento imobiliário na região usou diversos deles.
A partir do relato do dia 4, outros vieram e muitos vídeos surgiram. Todavia, nenhum particularmente intrigante para os cientistas. Convidado a analisar alguns deles, Luiz Fernando Macedo Morescki Junior, físico e professor de astronomia do IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina), em Jaraguá do Sul (SC), não descartou a hipótese de um satélite em órbita para nenhum deles.
“Os satélites não são fontes de luz, são iluminados pelo sol. Dependendo da posição em que um deles está, fica mais forte ou mais fraco, dando a impressão de que é uma luz que se apaga e se acende”, explica o professor.
Disposto a colocar ordem no que está ocorrendo no céu de Porto Alegre, Jung montou uma linha do tempo com relatos, vídeos e outras imagens dos fenômenos. O que apareceu até aqui são imagens de pessoas impressionadas com o que ele observa diariamente -e algumas armadilhas.
Sobre uma filmagem de pilotos na terça-feira à noite, por exemplo, de uma esfera iluminada, o engenheiro afirma com quase 100% de certeza ser Marte. Já um vídeo de Torres (RS), no litoral norte, na mesma noite, aparenta ser alguém tentando pregar uma peça com um drone.
Para Marcelo Girardi Schappo, físico, autor do livro “Armadilhas Camufladas de Ciência” e piloto, é difícil o relato do comandante da Gol permitir uma conclusão segura porque os referenciais quando se está voando são pouco confiáveis.
Assim, algo que parece estar acima pode na verdade estar embaixo, algo que some pode ter sido apenas encoberto e algo que muda de cor pode ser um efeito da interação da luz com os elementos químicos que estão na atmosfera naquele momento, como em uma aurora boreal.
“Vejo muito na argumentação ufológica: ‘se ninguém sabe explicar, então são aliens’. Todas as outras possibilidades convencionais são muito mais prováveis, como meteoros, planetas brilhantes com nuvens em movimento em frente a eles, descargas elétricas, reflexos de holofotes, drones etc.”, ressalta Schappo.
“Todas são bem conhecidas e documentadas, e por isso falamos sobre elas, mesmo que as imagens não nos permitam concluir com precisão em favor de qualquer uma delas”, diz o professor.