Com ‘Pantanal’, ‘Cavalo preto’ cresce quase 1.000% em plays e vira hit 75 anos após lançamento

Música preferida de José Leôncio foi gravada pela 1ª vez em 1946 e estourou com Sérgio Reis e Tonico e Tinoco nos anos 70; conheça a história e entenda mistério que envolve a letra.

Por Carol Prado, g1

Um modão das antigas envolto em mistérios é um hit improvável de 2022. “Cavalo preto”, música preferida de José Leôncio na novela “Pantanal” (TV Globo), vive seu auge mais de 75 anos depois de ser lançada.

No Spotify, uma das principais plataformas usadas pelos brasileiros para ouvir música, o número de plays da canção cresceu 931% nos primeiros dois meses de exibição do remake, que estreou em 28 de março.

Já as buscas pela faixa no YouTube aumentaram mais de 3.000% no mesmo período.

Na trama, os versos sobre viagens pelo Brasil no lombo de “um cavalo preto por nome de Ventania” sempre embalam as rodas de viola na fazenda dos Leôncio.

A música faz o protagonista, interpretado por Marcos Palmeira, lembrar do pai, Joventino (Irandhir Santos, na primeira fase da história). Já fora da novela, a mesma letra diz muito sobre lendas e tradições do campo.

Toca ‘Cavalo preto’, Tibério!

Embora de forma menos estridente, “Cavalo preto” já fazia sucesso na versão original de “Pantanal”, exibida em 1990 pela extinta Rede Manchete. Era quase sempre cantada por Sérgio Reis, que interpretou o peão Tibério, hoje vivido pelo também ator e cantor Guito.

Sérgio Reis e Almir Sater na versão original de 'Pantanal', exibida em 1990 — Foto: Reprodução/Rede Manchete

Sérgio Reis e Almir Sater na versão original de ‘Pantanal’, exibida em 1990 — Foto: Reprodução/Rede Manchete

Reis também é responsável por uma das versões mais famosas da música, lançada nos anos 1970, quando ela também ficou conhecida nas vozes da dupla Tonico e Tinoco.

Mas “Cavalo preto” é bem mais antiga que isso. Foi gravada pela primeira vez em 1946 pela dupla Palmeira e Luizinho.

A composição é de Anacleto Rosas Jr., grande nome do cancioneiro caipira, que nasceu em 1911, em Mogi das Cruzes (SP). Na letra, ele fala com carinho da vida livre de peão. E, por trás desses versos, evoca lendas que envolvem os cavalos de cor preta.

Anacleto Rosas Jr., compositor de 'Cavalo preto', morreu em 1978 — Foto: Divulgação

Anacleto Rosas Jr., compositor de ‘Cavalo preto’, morreu em 1978 — Foto: Divulgação

Eles são cobiçados no campo. Os cavalos pretos da raça árabe estão entre os mais caros do mundo.

Em várias culturas, o cavalo é considerado um símbolo de poder, liberdade e autoconfiança. Também pode representar os desejos humanos mais impulsivos. Se ele é preto, passa a também a ser relacionado com uma importante referência bíblica.

A Fome, um dos quatro cavaleiros do Apocalipse, vem montada justamente no lombo de um cavalo preto, com uma balança nas mãos. Além dela, Peste, Guerra e Morte são os cavaleiros, que, segundo a Bíblia, representam os eventos antes do fim de todas as coisas.

Se isso representa alguma coisa no contexto da letra, o compositor, que morreu em 1978, antes mesmo da primeira versão de “Pantanal”, nunca revelou. Mas a simbologia do cavalo preto ajuda a reforçar a mística que envolve a música, e a aura de mistério da novela.

Ainda mais considerando que, ao tocar a música, Tibério tem sempre a ajuda de Trindade, mais um peão violeiro, conhecidamente um amigo de forças das profundezas.