Em questões culturais, conhecer e respeitar diferenças é fundamental.
Muito se fala da importância de se conhecer outras culturas, seja em viagens, estudos ou filmes, por exemplo, sendo inegáveis os benefícios. Quero aqui, porém, em breves comentários, destacar a importância de se conhecer e principalmente de se respeitar a nossa própria cultura e história.
Costumo dizer, com orgulho, que venho de família de pioneiros da região de Sidrolândia. Família de meu pai, com incentivos do governo brasileiro, interessado em dar maior ocupação na região após a guerra da tríplice aliança, teria chegado de MG em torno de 1890. Um pouco depois, início do Século XX, temos as primeiras levas de gaúchos que vieram para o então Mato Grosso, incluindo as famílias de minha mãe, na mesma região, e de minha esposa, mais na região de fronteira com o Paraguai. Falar da coragem e importância histórica desse pessoal merece livros e me faltaria capacidade para tal. Importa destacar aqui que uma das primeiras principais atividades econômicas foi a pecuária. Necessária não apenas como questão econômica mas de sobrevivência mesmo. A alimentação dependia da carne e do leite; o transporte dependia de cavalos e de bois. Isso não significa desmerecer a importância de outras atividades como a erva mate e agricultura, esta tomando relevo maior apenas bem posterior, com nova levas de pessoal do sul chegando, especialmente ali pela década de 1970.
Tive o privilégio de fazer curso superior e especialização em Engenharia Agrícola, na Universidade Federal de Viçosa MG mas, por circunstâncias da vida, acabei tendo como atividade principal fora da área de formação, no Serviço Público Federal há mais de 26 anos. Ainda assim, nossa origem ligada ao campo sempre falou mais alto. Jamais perdemos o vínculo e o contato com as atividades de agricultura e pecuária, assim como a quase totalidade da família, de ambos os lados, direta ou indiretamente depende do campo. Falar da importância do agronegócio para o estado do MS e para o Brasil é chover no molhado e merece livro que me faltaria competência para escrevê-lo. Somos, sem nenhum exagero, um importante celeiro para o mundo e muito temos a crescer.
Além de muito breve destaque histórico, vamos falar um pouco da nossa pecuária bovina, começando por lembrar o preço atual da carne e o fato de que temos no MS rebanho que significa umas 8 cabeças de gado por habitante. O povo brasileiro é bastante ligado à criação de animais, creio que os favoritos sejam cães, gatos e cavalos. Aqui para nossas bandas, temos que incluir ao menos os bois, aves, carneiros e porcos. Muito além da importância das atividades econômicas, no geral, gostamos de criações e da interação com animais.
Sabemos que na Índia não se come carne bovina, ao contrário, o rebanho é considerado algo sagrado. Evidente que aos olhos indianos, nossa cultura de preparar muito churrasco por aqui é algo totalmente estranho e desagradável, provavelmente. Assim como nos parecem certos hábitos alimentares orientais, preparando animais que não costumamos comer por aqui. Ocorre que em questões culturais o respeito precisa prevalecer! Podemos conhecer, estudar, debater em fóruns científicos especializados, propor alterações, influenciar (principalmente a nossa, antes de pretender dar pitacos nos quintais alheios). Cultura também é dinâmica, pode e deve evoluir, especialmente, por exemplo, em questões de sanidade animal, de controle e segurança da cadeia alimentar, de qualidade no abate e processamento de carnes.
Lembram das famílias? De onde e como viemos? Lembram da principal festa cultural da cidade de Maracaju? Sabem da nossa enorme Festa recente no Clube do Laço Lino do Amaral Cardinal?
Pois bem, nesta semana circulou nas redes sociais suposta questão proposta em avaliação aos estudantes em escola aqui pela fronteira, condenando de forma veemente a produção de carne bovina para consumo humano.
Insisto, em cultura o fundamental é o respeito! Respeito os irmãos indianos, vegetarianos e todos os demais de culturas diferentes. Pretendo, no entanto, enquanto Deus nos Brindar enorme privilégio, continuar fazendo e participando de festas e carneadas, relembrando e agradecendo às minhas origens, aos heróis do passado; que nos trouxeram até aqui, comendo charque, preparando saborosas linguiças e inúmeros outros pratos de nossa culinária do campo e da cidade.
Ao finalizar, justifico o título inicial, em memória e homenagem à minha saudosa mãe, quem costumava, no preparo, bater os bifes na tábua. Segundo meus irmãos mais velhos, muito antes de eu aprender a falar, ao ouvir as primeiras batidas, minha mãe já percebia minha manifestação de forma absolutamente inquestionável: “quero carne!”.
Por Marcelo Rodrigues de Brito, em 29/04/2022.