Moeda norte-americana rompeu a barreira dos R$ 5,30 este mês e chegou a ser cotada a R$ 5,17 na quinta-feira (10); alto volume de investimento estrangeiro no Brasil é um dos motivos da perda de força da divisa.
Por Patrícia Basilio, g1
O dólar está perdendo força em 2022. Em janeiro, a moeda norte-americana acumulou queda de quase 5%. Este mês, ela rompeu a barreira dos R$ 5,30 e, entre altas e baixas, chegou a bater em R$ 5,17 durante os negócios da quinta-feira (10), no menor patamar intradia desde setembro.
Em 2022, o Brasil é o país onde o dólar mais se desvalorizou, segundo dados da Economatica.
O alívio na pressão cambial, no entanto, exige cautela, já que as eleições devem entrar no radar dos investidores nos próximos meses, segundo especialistas consultados pelo g1. De acordo com o último boletim Focus, a previsão é que o dólar termine o ano em R$ 5,60.
Confira abaixo os motivos que levaram o dólar ficar abaixo dos R$ 5,30:
Volume de investimento estrangeiro
O alto volume de investimento estrangeiro que o Brasil vem recebendo é um dos fatores que impulsiona a valorização do real frente ao dólar. Até quarta-feira (9), a bolsa de valores de São Paulo, a B3, registrava uma alta de 7,29% nesses investimentos em 2022.
De forma simples, a regra segue a lei da oferta e demanda: se o investidor de fora coloca mais dólares na economia brasileira, haverá um volume maior da moeda por aqui. E quanto maior a oferta, menor o preço.
Em janeiro, o investimento estrangeiro na bolsa atingiu R$ 32,49 bilhões na B3 — a segunda melhor marca desde 2012 e o quarto mês consecutivo de entradas de capital estrangeiro.
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Aumento dos preços das commodities
O aumento dos preços das commodities no mercado internacional também fortalece o real, uma vez que há um forte ingresso de dólares no país com a venda de produtos, como soja, minério de ferro e petróleo, explicou André Perfeito, economista-chefe da Nécton.
O preço das matérias-primas com influência sobre a inflação apresentou alta de 2,99% em janeiro, após variação negativa de 0,71% em dezembro. Em 12 meses, o Índice de Commodities Brasil (IC-Br) teve elevação de 40,41%, divulgado pelo Banco Central.
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Taxas de juros
A alta da Selic também atrai estrangeiros para o Brasil, via investimentos em renda fixa. Depois da última decisão do Copom, o Brasil voltou a ter o maior juro real (descontada a inflação) do mundo – pagando, assim, um retorno atrativo ao capital externo. E o Banco Central já sinalizou pelo menos mais uma alta da taxa, na próxima reunião, em março.
Segundo Silvio Campos Neto, economista-sênior da Tendências Consultoria, os juros dos EUA, que devem subir a partir de março, também ajudam a cotação do dólar a baixar por aqui: diante da postura mais agressiva do Federal Reserve, o BC dos EUA, para combater a inflação por lá (que atingiu o maior nível em 40 anos), os investidores norte-americanos estão se desfazendo de suas aplicações na bolsa, já prevendo o crescimento mais tímido da economia do país e das próprias empresas em que investem.
“Os investidores passaram a ver o Brasil como um mercado interessante entre os emergentes”, explicou o sócio da Tendências.
O dólar deve continuar em queda?
Na avaliação dos especialistas, o dólar deve permanecer em torno de R$ 5,30 este mês, com variações, principalmente, para baixo.
No entanto, será preciso ter cautela a partir do segundo trimestre, quando as eleições no Brasil entrarão no foco dos investidores, fazendo com que o dólar volte a subir, afirmou Silvio Campos Neto, da Tendências.
“Temos riscos consideráveis no Brasil. E o processo eleitoral deste ano vai gerar muito ruído”, alertou o economista.
É hora de comprar dólares?
Para quem tem dinheiro guardado ou tem de viajar a trabalho, os especialistas recomendam comprar dólares o quanto antes para aproveitar a cotação atual – já que ela pode não durar muito.
“A queda do dólar não deve ser muito duradoura por conta do risco Brasil, principalmente em ano de eleição. Temos muitas coisas importantes acontecendo no exterior e aqui [no Brasil] temos um processo eleitoral carregado de incertezas”, conclui o sócio da Tendências.
E de viajar ao exterior?
Segundo os especialistas, não. E para explicar a negativa, é necessário fazer uma ponderação: apesar de o dólar ter alcançado R$ 5,22 nesta quarta-feira (9), em 10 de fevereiro de 2020, ela valia R$ 4,32. Ou seja, a moeda norte-americana ainda está bastante valorizada no Brasil — encarecendo o custo de viagens internacionais e de compras no exterior.