O alerta vem de duas associações Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), que 118 instituições de excelência, como o Albert Einstein e o Sírio-Libanês, e a FBH (Federação Brasileira de Hospitais), que congrega 4.200 unidades de pequeno e médio porte.
Hospitais e associações médicas já vinham alertando nas últimas semanas o governo federal para a queda no estoque de analgésicos, sedativos e bloqueadores musculares.
A escassez dos medicamentos tem obrigado equipes médicas a trabalhar com drogas de segunda ou terceira linha, de maneira racionada, o que pode causar mais sofrimento aos pacientes, além de prejuízo na adaptação à ventilação mecânica e mais mortes, segundo médicos intensivistas ouvidos pela reportagem.
Em grupos de enfermagem visitados pela reportagem, profissionais relatam o desabastecimento já chegou em hospitais de ponta, como o Sírio-Libanês.
“Lá no Sírio a gente usava todas as sedações puras, e agora começamos a diluir porque não tá tendo. O Propofol [anestésico] 1% acabou, estamos usando o 2%, e o Cisa [Besilato de Cisatracúrio, bloqueador neuromuscular] também acabou e estamos usando o Rocurônio [relaxante muscular]”, diz uma técnica de enfermagem.
Fernando Ganem, diretor de governança clínica do Sírio-Libanês, diz que houve mudanças para equilíbrio do insumo, mas todas elas contempladas em protocolo e que não causam nenhum prejuízo ao paciente. “Não há falta, apenas diminuição de algumas formas de apresentação”, diz ele.
Para tentar evitar o colapso das UTIs, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu adotar medidas regulatórias emergenciais, como a possibilidade de importação direta de insumos por hospitais.
Mas, segundo as associações, isso não é o suficiente. Além disso, o Ministério da Saúde anunciou novas requisições administrativas de medicamentos, feitas diretamente aos fabricantes. Elas pedem que a pasta faça uma distribuição de estoques requisitados diretamente dos fabricantes.
“Não conseguimos mais reabastecer nossos estoques. Hospitais do Rio, Goiás, Ceará, São Paulo, São Catarina, todos chegara ao limite”, afirma Adelvânio Francisco Morato, presidente da FBH.
Ele lembra que, além dos pacientes com Covid, os hospitais serão obrigados a deixar de atender outras emergências, como politraumatizados. “Sem anestésicos, não tem como. E os pacientes crônicos, com AVC, doenças renais, oncológicas que estão nas UTIs não Covid? Eles precisam desses fármacos!”
Para ele, a atitude do Ministério da Saúde em requisitar medicamentos para os hospitais púbicos também vai prejudicar os pacientes do SUS. “Cerca de 70% dos atendimentos SUS são feitos na rede privada. É uma incoerência”, diz ele.
Morato afirma que o país caminha para um outro colapso na rede hospitalar. “Os pacientes que não morrerem por falta de leito de UTI, vão morrer por falta de medicamentos.”