A logística que envolve pais, mães e filhos e uma das estratégias para o negócio não acabar, é usar as gestantes
Kerolyn Araújo
Pai, mãe e os dois filhos do casal foram presos por fabricarem skank e haxixe no bairro Terra Morena. (Foto: Izabela Sanchez/Arquivo)Clique na imagem para ampliar
O tráfico de entorpecentes se tornou “empreendimento” familiar em Campo Grande. A logística que envolve pais, mães e filhos e uma das estratégias para o negócio não acabar, é usar justamente as mulheres grávidas ou com filhos pequenos, porque quase sempre, conseguem a liberdade rápido para cuidar dos filhos.
Em Campo Grande, diariamente, traficantes são retirados das ruas pelas polícias Civil e Militar, mas o trabalho não tem fim. Quando um vai preso, a boca de fumo, “herança” de família, passa a ser comandada por parente.
Segundo o delegado Pablo Gabriel Farias, adjunto da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), mesmo com as prisões dos “chefes”, o tráfico quase sempre continua. “Em alguns casos, quando o marido é preso, a mulher ou o filho assume o controle dos ‘negócios’ sob ordem dele. É um meio familiar”, explicou.
Em novembro do ano passado, uma família de traficantes foi presa por vender e manter em um dos cômodos de casa onde vivia laboratório de droga, no Bairro Terra Morena, em Campo Grande.
No local, foram apreendidos 110 quilos de maconha. Pai, mãe e os dois filhos do casal fabricavam skank e haxixe – derivados da maconha. O produto era comercializado por e-commerce, ou seja, vendido pela internet.
Conforme dados da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), 7.655 pessoas estão presas em Mato Grosso do Sul pelo crime de tráfico de drogas. Nos presídios femininos, das 874 detentas, 691 estão presas por tráfico.
Mulheres no tráfico – Conforme o delegado, uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que decidiu que mulheres grávidas e mães de crianças de até 12 anos, que estejam em custódia provisória, fiquem em prisão domiciliar, tem aumentado a quantidade de mulheres no tráfico. “Os traficantes tem recrutado as grávidas ou com filhos pequenos para o crime, porque sabem que elas não ficarão presas”, disse.
Pablo Farias cita que recentemente uma mulher foi flagrada com 120 quilos de maconha em Campo Grande. Antes mesmo da abordagem, ela já teria dito que era mãe de um filho pequeno. “O Supremo pensa pelo lado de proteger a família, a importância da mãe em casa cuidando dos filhos, mas os bandidos acabam usando desse artifício”, disse.
Na Capital – Apontada como “disciplina” do PCC (Primeiro Comando da Capital), Cristiane Gomes Nogueira Rodrigues, 31 anos, foi responsável por recrutar outros membros da facção para executar Rudnei da Silva Rocha, 22 anos, morto decapitado no dia 6 de outubro de 2017.
Mesmo com os indícios que apontavam Cristiane como chefe do grupo que executou o jovem, ela ficou em prisão domiciliar durante alguns meses por ter filho menor de 12 anos.Cgnews